por Marcelo Seabra
Sempre lembrado por ser um artista inconformado, que busca inovações e projetos variados, Steven Soderbergh dominou a forma de filmar com um Iphone e seu longa mais recente está na Netflix. High Flying Bird (2019) é praticamente um teatro com cenários variados, com diálogos densos e uma série de personagens inteligentes que constantemente se desafiam. E o bônus é a mensagem que fica, contra a ganância que cerca o esporte, que muda o foco do que realmente importa.
Depois da marcante estreia, com o independente e elogiado Sexo, Mentiras e Videotape (Sex, Lies and Videotape, 1989), Soderbergh enfileirou muita coisa boa, de filmes para o Cinema grandiosos e premiados a séries de TV. Ganhou um Oscar de Melhor Diretor por Traffic (2000), quando concorria também por Erin Brockovich (2000). O também premiado Tarell Alvin McCraney, roteirista de Moonlight (2016), se juntou ao diretor para desenvolverem uma história criada por André Holland (de Castle Rock). Não poderia ser diferente: o ator vive o protagonista de High Flying Bird.
Ray Burke é um agente esportivo em meio a um lockout, uma espécie de greve de patrões. Os dirigentes dos times brigam por mais dinheiro dos canais de TV, que pagam pelos direitos de transmissão das partidas. No fogo cruzado, estão os jogadores, que ficam com suas carreiras paralisadas. O principal cliente de Ray é o novato Eric Scott (Melvin Gregg, de American Valdal), que teve seu sonho de jogar na NBA colocado em espera. Entre o agente e o jogador está a assistente vivida por Zazie Beetz (de Velvet Buzzsaw, 2019), uma atriz a ser acompanhada.
O ritmo sofre algumas quedas e o meio do filme se torna um pouco monótono. Mas os diálogos afiados seguram a onda, incluindo na lista de bons intérpretes o cartola de Kyle MacLachlan (de Twin Peaks) e a sindicalista de Sonja Sohn (de Luke Cage). Outras duas participações que merecem ser mencionadas são as de Bill Duke (de Raio Negro), ótimo veterano que vive um técnico de basquete da comunidade local, e Zachary Quinto (o Spock de Star Trek), sempre eficiente como o chefe engomadinho de Burke. E há ainda alguns interessantes depoimentos de astros do esporte.
Alternando-se entre imagens urbanas simples e eficazes e cenários fechados, de escritórios e até elevadores, Soderbergh usa seu IPhone 8 de forma bem satisfatória, creditando sua fotografia e montagem aos pseudônimos de sempre, Peter Andrews e Mary Ann Bernard. Esse formato deve trazer muita agilidade ao projeto, facilitando sua chegada à Netflix. Quando você assusta, o filme, cuja produção foi anunciada há pouco, já está disponível.
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