Repescagem Oscar 2019: Rua Beale e Poderia Me Perdoar

por Marcelo Seabra

Da mesma forma que a indicação ao Oscar de Melhor Filme pode dar vida nova à carreira de um longa nos cinemas, a não indicação pode jogá-lo para escanteio. Se a estreia ainda não tiver ocorrido quando as indicações são anunciadas, ela pode até não acontecer. Por isso, da mesma forma que obras como Pantera Negra (Black Panther, 2018) e Nasce Uma Estrela (A Star Is Born, 2018) ganharam bastante holofote, outras passaram batido – mesmo que tenham sido indicadas em outras categorias, e até mesmo tenham levado alguma coisa. Duas delas seguem abaixo.

Se a Rua Beale Falasse

Novo trabalho do premiado diretor Barry Jenkins (de Moonlight, 2016), Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk, 2018) recebeu três indicações ao Oscar, levando o de Melhor Atriz Coadjuvante – as outras foram de Trilha Original e Roteiro Adaptado. Regina King, que ganhou vários prêmios nessa temporada, realmente está muito bem como a mãe de uma jovem que tem o namorado preso, falsamente acusado de estupro, e logo descobre estar grávida.

Segundo o escritor James Baldwin, autor da história, a rua Beale do título poderia ser qualquer rua americana, que vê seus cidadãos negros sofrerem abusos sem terem feito qualquer coisa para merecer. No filme, o que vemos é um casal sofrer assédio e, ainda sim, ser apontado como a parte errada da história. Um policial mal-intencionado é o suficiente para jogar um jovem na cadeia e amarrar os destinos de duas famílias.

Com uma fotografia comum e um roteiro e montagem que mais parecem de novela, Se a Rua Beale Falasse de fato não é o melhor filme do ano. Mas certamente merecia mais uma indicação que alguns dos agraciados. A história é forte o suficiente para chamar atenção, e a interpretação do casal central é mais que correta. KiKi Layne e Stephan James (de Selma, 2014) têm uma química convincente e conseguem tranquilamente levar o público para o drama de seus personagens. É um filme que merecia mais atenção.

Poderia Me Perdoar?

Na melhor interpretação de sua carreira (o que não é difícil), Melissa McCarthy (de Caça-Fantasmas, 2016) é a protagonista de Poderia Me Perdoar? (Can You Ever Forgive Me, 2018). Ela vive uma escritora intragável que já não consegue arrumar trabalho, apesar do talento para a escrita. Por acaso, ela vê uma salvação em forjar cartas de gente famosa, vendendo para colecionadores pelo suficiente para pagar o aluguel.

Lembrando os melhores filmes de falsários, como Prenda-me Se For Capaz (Catch Me If You Can, 2002), a diretora Marielle Heller (de O Diário de uma Adolescente, 2015) se equilibra bem entre o drama e a comédia, mantendo um humor irônico bem interessante. O roteiro, assinado por Nicole Holofcener (de À Procura do Amor, 2013) e Jeff Whitty, cobre bem os fatos que precisamos saber, tornando a sessão bem enxuta e divertida.

Uma trilha sonora agradável se junta a uma fotografia sensível, que ressalta a beleza da cidade sem idealizá-la. Entre vários acertos, o maior é a participação de Richard E. Grant (de Logan, 2017). Ele aparece de repente, em um bar, e se torna o melhor (e único) amigo da escritora, e rouba a cena sempre que está nela. Não à toa, ambos receberam indicações da Academia, além de Melhor Roteiro Adaptado. O filme não ganhou nada, mas a atenção é muito bem-vinda.

A dupla merecidamente foi indicada ao Oscar

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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