por Marcelo Seabra
A Última Gargalhada
Dois senhores entrados em anos se reencontram após décadas sem contato. Um era um agente de artistas que conseguia shows nas melhores casas do país. O outro era um comediante promissor que abandonou a carreira de repente para fazer algo mais “sério”, e virou dentista. Viúvos, vivendo num asilo, eles não se darão por vencidos facilmente, e embarcam numa nova turnê.
Essa é a trama de A Última Gargalhada (The Last Laugh, 2019), produção original Netflix que reúne Chevy Chase e Richard Dreyfuss em mais um desses filmes de veteranos saudosos, como Última Viagem a Vegas (Last Vegas, 2013) e Despedida em Grande Estilo (Going in Style, 2017). Dessa vez, são só dois, e o filme se segura totalmente nas costas deles. Chase, visto recentemente no reboot de Férias Frustradas (Vacation, 2015), continua com um carisma enorme, enquanto Dreyfuss (de RED: Aposentados e Perigosos, 2010) demonstra maior domínio como ator.
Com cara de produção para a TV, com um orçamento mais apertado e uma filmagem bem convencional, o longa serve mesmo para que possamos ver o talento de seus protagonistas. Enquanto Dreyfuss é mais clássico, ou que estamos acostumados a ver, Chase tem um ar estranho, como quem perdeu o timing da piada e a faz ficar melhor. As situações que eles vivem não são nada mirabolantes e ainda somos presenteados com uma participação de Andie McDowell (de Magic Mike XXL, 2015).
Dumplin’
Aproveitando-se da beleza da ex-Friends Jennifer Aniston, quase aos 50 e tão maravilhosa quanto aos 20, Dumplin’ (2018) propõe discussões comuns à adolescência, com o agravante da protagonista ser gordinha e filha de uma miss local. Os questionamentos normais da idade são elevados ao cubo, já que a garota não se sente à altura da mãe. Ou do bonitão com quem trabalha (Luke Benward – abaixo).
Danielle Macdonald, vista recentemente no comentado Bird Box (2018), vive Willowdean, uma colegial criada pela tia que é fã número um de Dolly Parton. Quando a tia morre, ela perde seu suporte e é obrigada a contar mais com a mãe, que apesar de ser bem-intencionada, é distante. As muitas atividades que ela acumula na comunidade não lhe deixam muito tempo para a própria filha.
Buscando desafiar o senso comum, que só premia meninas bonitinhas padrão, Willowdean se inscreve no concurso gerenciado pela mãe. A partir daí, o roteiro da produtora Kristin Hahn (baseado no livro de Julie Murphy) dá um tiro no pé, tornando a protagonista uma jovem birrenta que não sabe o que quer. O público se afeiçoa a qualquer outro personagem, menos a ela. A personagem de Aniston é simpática, tentando acertar, e a melhor amiga (Odeya Rush, de Lady Bird, 2017) de Willowdean a atura apesar de suas chatices.
Buscando passar uma mensagem de aceitação da diversidade, a diretora Anne Fletcher (de Belas e Perseguidas, 2015) mais uma vez demonstra também comprometimento com a causa feminista, o que é muito sadio. Mas faltou um texto mais original, ou que fosse mais longe. Depois de quase duas horas, as amizades e laços familiares são exaltados, todo mundo fica feliz e ninguém mais se lembra de ter assistido a Dumplin’.
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