por Marcelo Seabra
Em meio a tantas discussões sobre a óbvia necessidade de valorização do papel da mulher na sociedade, chega aos cinemas um longa que enfia o dedo na ferida. A Esposa (The Wife, 2017) mostra uma situação que, com variáveis, pode acontecer em várias famílias: a da mulher que faz tudo pelo marido e filhos e acaba ficando sempre à sombra deles. E, de quebra, presenciamos atuações fantásticas.
Com várias indicações a prêmios e um Globo de Ouro na bagagem, Glenn Close (a Nova Prime de Guardiões da Galáxia, 2014) tem roubado todos os holofotes para si. Com uma carreira sólida, iniciada no começo da década de 80, a veterana tem recebido merecidos aplausos por uma atuação contida, mas que deixa transparecer algo logo abaixo da superfície. Não cabe entrar em detalhes aqui, mas fica claro desde o início que há muito mais em Joan Castleman do que ela deixa aparecer.
Não tão aplaudido, mas igualmente competente, é Jonathan Pryce (o High Sparrow de Game of Thrones). De vilão de James Bond a Papa Francisco, é um ator de muitos recursos cuja qualidade se encaixa muito bem com a de Close. E o casal ainda tem uma versão mais jovem, vista em flashbacks, vivida pelos ótimos Annie Starke e Harry Lloyd. Starke é filha de Close, o que a torna uma escolha óbvia para o papel. Lloyd (também de GoT) e ela formam um casal explosivo, e as duas histórias são contadas em paralelo até se encontrarem.
Do elenco, ainda é preciso exaltar a presença de Christian Slater (de Ninfomaníaca, 2013), que anda sumido da tela grande, fazendo pequenas participações. Seu crescimento como ator é claro, precisando apenas do papel certo para aparecer mais. Quem destoa é Max Irons (de A Dama Dourada, 2015), que fica sempre com cara de coitado, andando pelos cantos. Não deixa de ser apropriado para o filho mimado do casal, mas passa da conta no quesito irritar o espectador.
A Esposa nos apresenta aos Castleman, casal formado por um escritor famoso e sua devotada esposa, enquanto eles aguardam a confirmação de uma grande notícia: Joe é o mais novo Nobel de literatura. Eles são convidados à entrega do prêmio e vão a Estocolmo, onde a maior parte da ação se passa. A paisagem fria e chuvosa da cidade se alterna com os cenários internos luxuosos, do quarto do hotel ao teatro onde o Rei sueco agracia os vencedores.
Com uma trilha que se mantém a postos, invadindo a cena e sumindo rapidamente, acompanhamos diálogos afiados e ressentimentos vindo à tona. Close e Pryce enriquecem o roteiro de Jane Anderson (de Olive Kitteridge, 2014), que é baseado no livro de Meg Wolitzer. Nada mais acertado, para uma trama como esta, que ter duas vozes femininas por trás, cabendo ao diretor Björn Runge amarrar tudo. Com tantos talentos envolvidos, deve até ter sido fácil.
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