por Marcelo Seabra
Depois de muitos e elogiados filmes na tela grande, os irmãos Coen se associaram à Netflix e lançaram The Ballad of Buster Scruggs (2018). Nos Estados Unidos, houve uma rápida exibição nos cinemas, mas não tivemos essa sorte no Brasil. O filme já está disponível no serviço de streaming e é daqueles que não se pode deixar sumir no mar de opções que aparecem. O prêmio de Melhor Roteiro em Veneza não foi à toa.
Dividido em seis segmentos, o longa não conta uma história apenas. As seis partes nos levam a lugares diferentes que compõem o velho oeste, com todos os grandes momentos que podemos imaginar. O que vem à cabeça quando se pensa em faroestes? Execução na forca, assalto a banco, caravanas viajando pelo deserto, a caça ao ouro, embates com índios, duelos em ruas empoeiradas e até cantores com seus violões. Tem de tudo nessa obra. E a transição entre drama e humor é bem feita, marcando os dois momentos.
Para citar o histórico dos Coen é preciso decidir se começamos pelos mais premiados (Onde os Fracos Não Têm Vez, 2007, e Fargo, 1996), pelos mais recentes (Ave, César, 2016, e Inside Llewyn Davis, 2013), ou qual será o critério. Seus filmes são dos mais diversos, e há no mínimo um grande faroeste: Bravura Indômita (True Grit, 2010). The Ballad of Buster Scruggs vem reforçar esse gênero, trazendo personagens interessantes e inusitados como só os irmãos sabem fazer. As histórias que se sucedem têm sido desenvolvidas há anos, e uma delas inclusive é baseada em um conto de Jack London (conhecido por Caninos Brancos) – aquela em que um prospector solitário tenta achar ouro.
Além da presença de todos esses elementos, temos os diálogos afiados dos Coen. Alguns dos segmentos nos deixam até inquietos, de tanto que se fala. Mas nada do que é dito é dispensável. Todas as palavras são escolhidas a dedo, inclusive as das animadas canções country entoadas pelos personagens. A trilha instrumental de Carter Burwell, frequente colaborador dos diretores, é outro ponto a ser destacado, casando muito bem com cada situação e ajudando muito na ambientação.
Para seis histórias distintas, seria necessário um grande elenco, e a sensação que temos é que todos querem trabalhar com os Coen. Como as filmagens foram rápidas e em lugares mais distantes dos grandes centros, como Nebraska e Novo México, os nomes usuais mais chamativos, como George Clooney, Tom Hanks ou Brad Pitt, ficaram de fora. Há nomes repetidos da filmografia dos diretores, como Tim Blake Nelson, Clancy Brown e Stephen Root, mas aparecem também muitas novidades, como James Franco, Liam Neeson, Tom Waits, Brendan Gleeson e Zoe Kazan, entre muitos outros. Todos muito bem inseridos e caracterizados.
Mas falar de um longa dos Coen sem citar a fotografia seria um crime impensável – principalmente The Ballad of Buster Scruggs. O experiente Bruno Delbonnel faz sua segunda colaboração com os irmãos (depois de Llewyn Davis), além de trabalhar constantemente com Tim Burton. Suas imagens chegam a ser poéticas, com belas paisagens em contraluz, tornando possível longas passagens sem diálogos, já que podemos ver as informações necessárias, evitando explicações chatas. Tudo bem costurado pela montagem de Roderick Jaynes, pseudônimo dos próprios diretores.
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Até que enfim alguém comentou sobre esse filme...parabéns!