por Marcelo Seabra
Um sujeito carismático, perigoso e mal-intencionado vai reunindo seguidores para liderar um levante, enquanto cumpre uma agenda secreta. Não se trata do crescimento da extrema direita no mundo, mas do novo Animais Fantásticos. Conhecemos melhor o personagem de Johnny Depp, revelado no final do filme anterior, e Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald, 2018) gira em torno das ações dele.
Depois de comandar os quatro últimos filmes da série de Harry Potter, David Yates se tornou o diretor oficial dessa nova franquia, que tem as partes 3, 4 e 5 já anunciadas. Como ele, J.K. Rowling também está de volta como roteirista, adaptando sua própria obra. O elenco, que ganhou reforços, também está lá novamente, com Eddie Redmayne à frente. Com tantos retornos, uma coisa se foi: a novidade. O frescor do primeiro filme, onde tudo era inovador e criativo, ficou lá, com a fórmula sendo repetida aqui.
Tudo parece no lugar esteticamente, e até o efeito 3D funciona bem. Mas a sensação que dá é que passamos mais de duas horas sendo enrolados, esperando por uma revelação que chega no final e é isso. Resta aguardar o próximo. Na aventura anterior, Newt Scamander (Redmayne) vai a Nova York comprar um presente, se vê envolvido em situações perigosas e acaba proibido de viajar. O que, claro, ele fará de qualquer forma. Scamander volta a afirmar que não existem animais estranhos ou feios, o que existe é gente preconceituosa. Essa defesa da diversidade continua, e ainda há a luta entre os dois lados dos magos, um que defende a paz com os não magos e outro que se julga superior, algo que já vimos acontecer até com os mutantes de X-Men.
Para tentar fugir dessa sina de “mais de mesmo”, Rowling joga mais um punhado de personagens na cena, sem se aprofundar em nenhum. Para os fãs de Potter, são dadas várias piscadelas com referências, o que deve satisfazê-los. Mas deixa os demais entediados, e o sono fica rondando, esperando para fincar pé. Quem ganha um pouquinho de profundidade é Alvo Dumbledore, que aparece em uma versão bem mais jovem, vivido por Jude Law (de Rei Arthur, 2017). A sexualidade do professor levantou polêmica, já que mais nada no filme o fez. Mas fica bem claro que ele teve uma forte relação com outro personagem masculino. Para ficar mais claro que Dumbledore é gay, só tocando I Will Survive.
Assim como no episódio anterior, sabemos pouco do jovem Credence (Ezra Miller), e todo o mistério do filme gira em torno dele – o que deixa claro que nesse mato tem cachorro. E a história dele, como também a de Grindelwald (Depp), não parece caminhar para lugar nenhum. E onde estariam os tais crimes de Grindelwald? Outra pergunta sem resposta. O mago é muito malvado, como as expressões exageradas de Depp e todos os diálogos tornam óbvio, mas só o vemos maquinando e fazendo discursos. E de onde tiraram de misturar Nicolau Flamel nesse caldo?
O começo promissor da franquia Animais Fantásticos acabou não se sustentando, mesmo que Rowling continue trazendo assuntos espinhosos para discussão. Quanto Scamander diz, por exemplo, que não vai optar por um lado, a metáfora política é óbvia: se você não escolhe um lado numa batalha, um será escolhido para você. Mas boas intenções não sustentam um projeto. Se não teve mais sucesso, não foi por ter sido ofuscado pelas acusações de violência doméstica contra Depp. Foi por ser vazio mesmo. E se Rowling e Yates não conseguem entregar um bom filme do Universo Bruxo, quem conseguirá?
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