por Marcelo Seabra
“Uma mistura de um conto de fadas com um filme do Michael Mann”. Assim Drew Pearce define seu Hotel Artemis (2018), sua estreia na direção de um longa. Roteirista e produtor, ele entrega uma obra que tem toda pinta de adaptação de história em quadrinho, mas mais preocupado em acelerar o ritmo do que em contextualizar ou explicar. Não temos muito acesso ao passado dos personagens, mas logo entendemos aonde eles querem chegar.
O Hotel Artemis é, na verdade, um hospital para fugitivos. Toda a sorte de criminosos chega lá buscando tratamento ou socorro imediato, e para isso eles pagam regularmente. Funciona como um clube, e todos mantém a discrição. Quando a história começa, descobrimos um assalto dando errado e somos conduzidos ao hotel pelos irmãos que escaparam do crime. Sherman (Sterling K. Brown, da série This Is Us) carrega o caçula (Brian Tyree Henry, de Atlanta) ferido para lá, onde são recebidos pela Enfermeira (Jodie Foster, de Deus da Carnificina, 2011). Envelhecida por maquiagem, a atriz mostra que continua sendo uma força da natureza em frente às câmeras.
Mesmo com uma placa luminosa na fachada, o hotel é mantido em sigilo pela Enfermeira e seu capanga, Everest (Dave Bautista, de Os Guardiões da Galáxia). Eles resolvem internamente qualquer problema e os hóspedes seguem regras rígidas, como não matar outro hóspede. É revelado que o mandachuva do lugar é um mafioso apelidado de Rei Lobo (Jeff Goldblum, de Jurassic World 2, 2018) e, logo, o próprio aparece, precisando de cuidados. Ele é acompanhado pelo filho (Zachary Quinto, o Spok de Star Trek) e um séquito de marginais.
Os demais hóspedes não demoram a aparecer, fazendo a trama andar. Temos Sofia Boutella (A Múmia de 2017) e Charlie Day (de Férias Frustradas, 2015) completando o elenco principal. Enquanto ele é uma versão mais barata e histriônica de um Sam Rockwell, ela se faz de misteriosa e esconde grande potencial para o mano a mano. Chega, inclusive, a lembrar bastante a Elektra, personagem do universo do Demolidor. E a trama se passa alguns anos a frente, numa Los Angeles tomada por rebeliões, onde a polícia é privada e espanca sem dó e a água custa caro.
Lembrado como roteirista de Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013) e do quinto Missão: Impossível (Rogue Nation, 2015), Pearce tem uma premissa interessante em mãos, e segue quase como um videogame. Muita gente deve sentir falta de algo mais profundo, melhor desenvolvido. Mas a ação não decepciona. O nível de violência, inclusive, cresce bastante, chegando a surpreender quando o sangue espirra. Ele explora bem a estrutura do hotel, onde se passa 90% do filme. A câmera passeia pelos longos corredores e nos dão uma ideia da geografia do lugar.
O bom elenco e o fiapo de trama que dá início a Hotel Artemis causam uma boa impressão que só vai durar caso o público entre nessa viagem de cabeça. O desenrolar, aliado a uma grande dose de violência, pode causar desconforto e afastar parte da audiência. Na pior das hipóteses, Pearce se mostra promissor e deixa alta a expectativa por seu próximo projeto.
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