Grande elenco é desperdiçado em brincadeira de criança

por Marcelo Seabra

Amigos de mais de quarenta seguem brincando, um mês por ano, de pega-pega. Sabe aquela brincadeira de “te peguei, está com você”? Pois é, exatamente isso. Desde os nove anos de idade, quando criaram as regras. Moram em estados diferentes, cada um tomou um caminho, mas o reencontro vem sempre na forma do jogo, quando precisam vencer uns aos outros em esperteza. Essa é a trama de Te Peguei (Tag, 2018), longa atualmente em cartaz.

Você pode pensar: “que troço exagerado, ninguém brincaria disso por mais de três décadas”. Mas o argumento é baseado num fato. O que pode ser surpreendente, até assustador. Mas não necessariamente engraçado. E trata-se de uma comédia. Esse é o principal problema da obra: a completa falta de graça. As poucas situações criadas nesse sentido são forçadas e insistem num tipo de humor rasteiro, como piadinhas com maconha.

Com um resultado tão fraco, a conclusão mais óbvia é que temos aqui um grande desperdício de elenco. À frente, Ed Helms repete seu papel de Se Beber, Não Case (The Hangover), o de sujeito certinho, bacana, que se vê fazendo coisas loucas quando pressionado pelas circunstâncias. Jon Hamm, o eterno Don Draper de Mad Men, atualiza o papel de executivo poderoso ao qual está acostumado. Nenhum dos dois recebe muita oportunidade do roteiro – talvez Hamm tenha uma situação melhorzinha na sequência inicial.

Os outros dois amigos, vividos por Hannibal Buress e Jake Johnson, são relegados às tais piadinhas bestas, talvez por serem atores menos estabelecidos. E chegamos a Jeremy Renner, que acaba tendo a menos pior das funções. Brincando com sua persona de herói (estamos falando do Gavião Arqueiro da Marvel), ele até se sai bem como o amigo que nunca foi pego. Exatamente por isso, o mais distante da turma, já que o medo de perder na brincadeira o faz ficar sempre longe.

Numa comédia extremamente masculina, o roteiro até se esforça para valorizar as mulheres que joga na trama, sempre sem sucesso. Temos Isla Fisher, Leslie Bibb, Annabelle Wallis e Rashida Jones como quatro bibelôs, além de uma pequena participação da sumida Nora Dunn. Se já estava tudo indo mal, o final consegue ser ainda pior. Não vamos entrar em detalhes para não estragar nada, mas sempre dá para piorar. Não foi da primeira vez que o estreante Jeff Tomsic causou uma boa impressão. Melhor sorte na próxima.

O casamento era pra ser o ponto alto do filme

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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