por Marcelo Seabra
Quando uma sequência demora 14 anos para ser feita, pode-se pensar que só reacenderam o projeto em busca de uns trocados. Ou, talvez, esse tempo realmente tenha servido para maturar a ideia. Felizmente, Os Incríveis 2 (The Incredibles 2, 2018) se encaixa no segundo caso. É possível que uma sequência imediata tivesse estragado tudo, com uma premissa afobada e um mal aproveitamento daquele universo. O momento não poderia ter sido mais feliz.
Claro que, para uma animação, a passagem do tempo não precisa ser sentida da mesma forma. Afinal, não há atores envelhecendo. A história se passa pouco depois do original, com Jack Jack (ou Zezé, na dublagem brasileira) ainda bebê, descobrindo seus poderes, e os heróis banidos. A família Parr (ou Pera) segue agindo na clandestinidade, como alguns outros heróis que se revelaram ao mundo inspirados por eles. Um empresário bem-intencionado começa a trabalhar a imagem dos heróis para que a opinião pública passe a aceitá-los e eles voltem a circular livremente.
O mais interessante é que, ao contrário do marido, a Elastigirl não sai destruindo tudo pelo caminho. Exatamente por isso, ela é melhor aceita pela sociedade, e seus atos heroicos começam a limpar a barra dos supers. Claro que as coisas não serão tão suaves para Os Incríveis. E enquanto a esposa sai em missões, Bob fica em casa cuidando das crianças, o que se mostra tarefa mais ingrata. Claro que o roteiro força a barra um pouco, para efeitos cômicos, e funciona muito bem. A moral da história é bem clara: as mulheres dão conta de muito mais desafios que os homens.
Nesse momento de empoderamento feminino, de valorização do papel da mulher, nada mais apropriado que essa segunda aventura dos Incríveis. Com Brad Bird novamente à frente da direção e do roteiro, o filme dá continuidade ao anterior respeitando o que havia sido estabelecido, indo mais longe no desenvolvimento dos personagens. Por isso mesmo, Helen e Violet ganham maior destaque. Há também outra mulher importante para a trama, a irmã do tal empresário, a mente criativa responsável pelo sucesso da família. E ainda cabem assuntos como o poder da opinião pública, que levanta ou derruba qualquer um, e a importância da família.
Em pouco menos de duas horas, acompanhamos uma história divertida, bem montada e engraçada na medida certa. A trilha sonora de Michael Giacchino é um espetáculo à parte, expandindo os temas compostos para o primeiro. Todas as peças parecem se encaixar. Só é uma pena que, para variar, a maioria absoluta das cópias seja dublada em português, o que nos priva de talentos como os de Craig T. Nelson, Helen Hunter, Catherine Keener, Bob Odenkirk, Samuel L. Jackson e até de Barry Bostwick, numa participação especial mais uma vez vivendo um prefeito (como em Spin City).
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