por Marcelo Seabra
No papel principal, Mateus Solano (de Em Nome da Lei, 2016) parece fazer o melhor com o texto que tem em mãos. Mas não ajuda o fato de Virgílio simplesmente receber um recado em sua secretária eletrônica de uma pessoa que ele não conhece e ficar obcecado com isso. Aparentemente vítima de um transtorno psicológico que aparece quando é conveniente, Virgílio tem uma rotina impecável, perfeitamente descrita em um post it colado na geladeira. A tal mensagem dá aquela sacudida nessa vidinha e o leva a pensar: “Quem é Clara e por que ela terminou comigo?”
A premissa é interessante e deve levar muita gente às salas. Mas tudo logo se mostra exagerado, com alguns picos de ridículo. Situações loucas como as que acompanhamos até poderiam ser reais, mas não temos elementos que deem base para pensarmos isso. Se fosse um emaranhado de sketches, algumas seriam bem legais, enquanto outras seriam fracas ou até irritantes. Costuradas juntas, não se sustentam. Fica quase um videogame, daqueles em que a fase se repete e o herói é obrigado a insistir em matar o vilão. A diferença é que Virgílio vai encontrando conhecidos, um atrás do outro, sem resultado algum. E fica claro que ele não tem paciência suficiente para ter amigos. No máximo, colegas de trabalho.
A psicóloga vivida por Totia Meireles é obrigada a correr e descobrir a possível causa dessa repentina amnésia do personagem, se é que é isso que aconteceu. A profissional experiente e segura não sabe nada sobre o assunto e vamos descobrindo junto com ela. Enquanto o problema de Virgílio é cercado de mistério, as coisas conseguem se manter minimamente atraentes. À medida em que tudo vai clareando, vai ficando menos interessante, até cansativo. Quase como um primo pobre de Depois de Horas (After Hours, 1985). Temos um desfile de coadjuvantes desnecessários, oportunidade para o diretor Rodrigo Bernardo usar várias celebridades em pontas, como Dani Calabresa e Marco Luque. E as ações do personagem de Paulo Vilhena são incompreensíveis.
As situações que fazem menção ao transtorno de Virgílio, somadas à aparição de um cachorro – cujo único propósito é ser fofinho – nos remetem imediatamente a Melhor É Impossível (As Good As It Gets, 1997). Mas o filme mais recente é sempre inferior aos que lembra. E, se o grande diferencial que Talvez uma História de Amor prometia ter era fugir de regras pré-estipuladas, é exatamente para lá que ele ruma. O final convencional é a cereja do bolo de um filme surreal (no mau sentido) e cansativo.
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