Bill Hader é o multifacetado Barry

por Marcelo Seabra

Nova atração original da HBO, a série Barry (2018) traz Bill Hader (de Descompensada, 2015) em seu melhor papel. Talvez tenha ajudado o fato dele ser um dos criadores, produtores, roteiristas e diretores da atração, reservando para si o papel do protagonista, um tipo que ele faz com aparente tranquilidade. Barry, o personagem, entrou recentemente para um curso de teatro e, mesmo que não pareça ter jeito para a coisa, vai insistir. Ah, e ele é um assassino profissional.

Ex-fuzileiro possivelmente traumatizado, Barry volta da guerra e é cooptado por um amigo da família, Fuches (Stephen Root, de Corra, 2017), para matar profissionalmente, e esse sujeito funciona como seu cafetão. Ele segue, então, sua vidinha tranquila matando algumas pessoas e pagando suas contas até que um trabalho os leva a Los Angeles e ele participa de uma aula de atuação. Mordido pelo bichinho do teatro, Barry decide investir nessa nova carreira e tenta conciliar suas duas vidas.

É claro que a natureza dos trabalhos vai gerar situações inusitadas e, vez ou outra, um vai interferir no outro. Acontecem coisas como, por exemplo, Barry ler um livro de conselhos de seu novo professor (Henry Winkler, de Sandy Wexler, 2017 – acima) enquanto tocaia uma futura vítima. O fato de matar pessoas faz com que ele se distancie definitivamente de suas emoções, e a atuação exige o contrário: que ele as domine e as use. Até a morte de um colega pode gerar estímulos que podem ser canalizados – mesmo que ele esteja envolvido no crime. E essa morte abre uma investigação policial que acaba levando alguns dos 30 minutos de cada episódio, com momentos divertidos entre os detetives.

Dentre os colegas atores, se destaca Sally (Sarah Goldberg), por quem Barry se interessa e que serve para concentrar as observações e críticas feitas ao mundo de Hollywood, ao mesmo tempo sedutor e impiedoso. A série aproveita bem esse núcleo para dar algumas cutucadas, inclusive com citações diretas a obras famosas. O papel do professor, o Sr. Cousineau, é vivido com deleite por Winkler, claramente se divertindo fazendo uma caricatura de algumas pessoas que ele deve ter conhecido ao longo de sua carreira. Ele é sem dúvida um bom motivo para se acompanhar Barry.

Na programação da HBO nas noites de domingo e disponível no serviço de streaming do canal, a série é uma boa diversão que passa longe do esperado. Enquanto o tema principal não é bem original, com a comédia Matador em Conflito (Grosse Point Blank, 1997) como referência mais famosa, Barry faz uma mistura interessante que a distancia de similares. Dá para dormir feliz depois de um episódio.

Goldberg representa um tipo bem comum em Los Angeles

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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