por Marcelo Seabra
Em outubro de 2011, o técnico de futebol americano universitário Joe Paterno chegou à sua 409ª vitória à frente do time da Penn State University. Após longos 61 anos construindo uma carreira e um legado, aos 84 de idade ele se viu envolvido num escândalo que apontava um amigo e colega próximo como pedófilo. Aí, entra a diferença entre o que é legal e o que é ético, ou moralmente correto.
Paterno (2018) é uma nova produção da HBO e acaba de entrar na programação do canal a cabo. Trata-se da segunda colaboração entre o estúdio, o diretor Barry Levinson e Al Pacino (ambos abaixo), que nos deram Você Não Conhece o Jack em 2010. Depois do Dr. Jack Kevorkian e de Phil Spector (também da HBO), JoePa é mais uma figura real que Pacino interpreta no momento da descida ao inferno, por assim dizer.
Jerry Sandusky (vivido por Jim Johnson) era membro da equipe técnica de futebol americano da Penn State e apareceu numa matéria jornalística acusado de abuso sexual, se aproveitando da proximidade que tinha com garotos jovens. Logo, outros garotos se levantaram, deixando bem claro que a prática de Sandusky era antiga e corriqueira. E ninguém em volta fez nada a respeito. É um tipo de situação bem comum, infelizmente, e este caso serve para representar vários outros.
O foco do longa é o treinador Joe Paterno, conhecido como “técnico, educador e humanitário” e grande responsável pelo aumento de doações à Penn State, que deixou de ser conhecida como uma universidade rural e se tornou uma potência no esporte. As evidências contra Sandusky eram inegáveis, e ele logo cairia. A dúvida que ficava era: e o papel de Paterno nisso tudo? Ele poderia ter se pronunciado? Deveria? E as vítimas, enquanto isso, saem como culpadas, sendo perseguidas por estarem sujando o nome de um “homem de bem”.
Uma importante participação no longa é a da jornalista Sara Ganim (Riley Keough, de Ao Cair da Noite, 2017), que serviu de consultora para a produção. A história dela no jornal The Patriot-News acaba servindo de base para o caso e ela investiga mais a fundo, procurando todos os envolvidos. O trabalho jornalístico, mesmo como coadjuvante, pode ser observado sem qualquer pompa, de maneira bem realista. Ganim foi a terceira mais jovem ganhadora do prêmio Pulitzer, além de ter levado outras premiações, e hoje trabalha na CNN.
A ótima interpretação de Pacino é reforçada por algumas questões importantes levantadas. Alguém, num determinado momento, lembra do papel da Igreja nos acobertamentos dos casos de abuso sexual envolvendo padres. A filha de Paterno (Annie Parisse, de Friends from College) coloca: “Se meus filhos sofrerem abuso, não quero que você espere o fim de semana passar para me contar”. Esse era o primeiro problema de Joe: ter esperado. E as discussões seguem daí.
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