The Rock encontra em Rampage oponente à altura

por Marcelo Seabra

Se a missão é se colocar entre monstros gigantescos e violentos e impedir uma catástrofe, não há homem melhor: Dwayne Johnson, vulgo The Rock. Em sua terceira colaboração com o diretor Brad Peyton, o astro mais uma vez parte para a ação descerebrada pontuada por piadinhas e efeitos especiais. O mais louco é perceber que, do meio em diante, Rampage: Destruição Total (2018) perde qualquer senso de ridículo e isso o torna mais divertido. O longa chega aos cinemas nacionais essa semana com a esperança de grande arrecadação.

Em 2009, a Warner adquiriu a Midway Games e levou junto os direitos de adaptação das obras da empresa. O jogo Rampage foi criado em 1986 e o longa vem sendo desenvolvido desde 2011. Só saiu do papel com o envolvimento de Johnson, que convidou seu amigo Peyton, que o comandou em Viagem 2 (Journey 2, 2012) e Terremoto (San Andreas, 2015). A trama exige muito comprometimento por parte do público, que precisa aceitar vários absurdos para comprar a ideia. Uma vez dentro do filme, é só encostar na cadeira e deixar e tela e o som IMAX fazerem o serviço.

De cara, descobrimos que uma empresa de manipulação genética está buscando transformar animais em armas tornando-os superpoderosos e resistentes. Por questões legais (ou assim nos fazem crer), os testes em cobaias são feitos no espaço, o que de fato é muito inteligente. É claro que tudo vai dar errado e teremos supercriaturas na Terra. Paralelamente, conhecemos o primatologista vivido por Johnson, um ex-militar ninja que passa seus dias cuidando de primatas e evitando seres humanos. O porquê, não sabemos, mas esse é o único diálogo expositivo do qual somos poupados. Todas as explicações consideradas necessárias vêm em falas didáticas e enervantes. As demais são apenas bestas.

A mocinha, defendida por Naomie Harris (de Beleza Oculta, 2016), é uma doutora expert em genética que se resume a invadir e roubar, não servindo para muito mais. E o personagem de Jeffrey Dean Morgan (de The Walking Dead), sempre com um sorrisinho calhorda no rosto, dá um toque cowboy. No campo dos antagonistas, temos uma combinação terrível de Pink e Cérebro com os vilões de Scooby-Doo. Uma irmã maligna e calculista (Malin Akerman, de Billions) e um irmão tapado e manipulável (Jake Lacy, de Armas na Mesa, 2016) são os donos da empresa do mal culpada por tudo.

O melhor personagem de Rampage é George (com os movimentos de Jason Liles), um gorila simpático e gozador que se transforma em uma máquina de destruição. Ele, ao menos, se mantém coerente por todo o longa, ao contrário das outras criaturas, que descobrem talentos novos explicados pela manipulação genética. Os quatro roteiristas jogam aí a culpa de tudo e, ao mesmo tempo, tudo se torna possível. Por isso, aproveite a pipoca e se divirta com a falta de noção do filme, que de tão exagerado consegue tirar um sorriso do público.

The Rock encontrou um amigo maior do que ele

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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