por Marcelo Seabra
August Pullman (Jacob Tremblay) é um garoto de 10 anos de idade que se prepara para ir à escola pela primeira vez. Cercado de cuidados pelos pais, ele fica imaginando como será conviver com outros de faixas etárias variadas, se será aceito, se terá amigos. Resumindo, as preocupações de qualquer um nessa época da vida. O agravante é a deformidade facial que faz com que Auggie seja logo notado em qualquer lugar, o que complica um pouco as agruras usuais. Ele é o protagonista de Extraordinário (Wonder, 2017), longa que ocupa atualmente o primeiro lugar entre as bilheterias nacionais.
Depois de As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, 2012), ninguém tinha dúvida da sensibilidade do diretor e roteirista Stephen Chbosky para tratar de questões relacionadas a amadurecimento, amizade, lealdade, aceitação e outros assuntos relacionados ao crescimento. Adaptando o livro campeão de vendas de R.J. Palacio com mais dois roteiristas, ele acerta novamente o alvo, com uma história delicada que trata seus personagens como seres humanos, como gente que acerta e erra e é capaz de mudar de opinião e comportamento.
Tendo estourado para o mundo com O Quarto de Jack (Room, 2015), Tremblay tem o desafio de ter que atuar com uma maquiagem pesada no rosto, perdendo aquela carinha simpática que ganha o público de cara. E ele mostra grande talento compondo Auggie com gestos comedidos e muita expressão, o suficiente para vermos sob as próteses o que ele está sentindo ou pensando. Numa espécie de mistura de Marcas do Destino (Mask, 1985) e Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004), Tremblay tem uma nova chance para brilhar.
A mensagem de bondade e superação está presente, mas numa medida que não deixará ninguém de cara fechada. Vividos por Owen Wilson (de Gênios do Crime, 2016) e Julia Roberts (de Jogo do Dinheiro, 2016), os pais de Auggie abriram mão de muita coisa para cuidar do filho, mas não se mostram amargurados, paranoicos ou mais problemáticos que o normal. Eles têm os pés no chão e entendem o caminho que o pequeno precisa seguir. Por isso, quando completa 10 anos, Auggie deixa de estudar em casa, com a mãe, para começar seu processo de socialização.
Com um garoto que demanda tanta atenção em casa, é de se esperar que a irmã se sinta um tanto deixada de lado. Olivia (Izabela Vidovic, de Supergirl) mostra bem esse sentimento, ao mesmo tempo em que é extremamente compreensiva. Um ponto positivo do longa é mostrar os pontos de vistas de vários envolvidos, até daqueles que julgamos menos importantes num primeiro momento. Se a história de Miranda (Danielle Rose Russell, de Os Originais) não convence e parece desnecessária, a de Jack Will (Noah Jupe, de The Night Manager) comove e mostra que às vezes pisamos na bola para sermos aceitos.
À medida em que a história avança, podemos ouvir a fungação generalizada na sala. Extraordinário é o tipo de filme que consegue facilmente uma reação mais emocionada de seu público, e seu maior trunfo é fazer com que nos apeguemos a Auggie. Todos vão se ver torcendo pelo garotinho, e entendemos que ele também tem seus momentos de xilique, ou exagero. Ao menos, isso é o que parece para quem está de fora. Para ele, naquela idade, é tudo questão de vida ou morte. Se, para um estudante que passa batido, já é tudo muito difícil, imagine para ele, que nasceu para se destacar?
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