por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Do trio que forma a espinha dorsal dos Vingadores no Universo Cinematográfico da Marvel, Thor é o personagem com o qual os produtores e roteiristas têm a maior dificuldade de trabalhar. Se o Capitão América é o soldado e o Homem de Ferro, o gênio, playboy, bilionário, filantropo e comediante, Thor fica numa área cinzenta entre os dois. Ele é um deus, o que significa que um ego gigantesco e fanfarronice desmedida se encaixam no papel, mas também precisa se adaptar à convivência com humanos, o que gera diversas situações cômicas. Thor: Ragnarok (2017), terceiro filme solo do Deus do Trovão, abraça isso e o que temos aqui é uma comédia de ação no melhor estilo Guardiões da Galáxia.
A referência aos Guardiões é apropriada pelo fato de Thor: Ragnarok ser, antes de mais nada, uma aventura interplanetária e de o roteiro escrito a seis mãos, por Eric Pearson (de Agente Carter), Cristopher Yost (Thor: Mundo Sombrio, 2013) e Craig Kyle (de vários desenhos da Marvel), disparar piadas uma atrás da outra, nem sempre com os melhores resultados. Apesar disso, eles e o diretor Taika Waititi (de O Que Fazemos Nas Sombras, 2014) não esqueceram da ação, o que o filme tem de sobra. Outro ponto positivo do roteiro do trio foi o fato de eles terem olhado para uma das melhores fases dos quadrinhos tanto do Deus do Trovão quanto do Hulk para construir a história, o que vai fazer a alegria dos fãs.
A história se passa dois anos após os eventos mostrados em Vingadores: A Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron, 2015). Desde então, Thor (Chris Hemsworth, de Caça-Fantasmas, 2016) tem vagado pelo espaço em busca das Joias do Infinito, aquelas pedras que também têm sido buscadas por Thanos (Josh Brolin) e terão importância fundamental no próximo filme dos Vingadores, Guerra Infinita. Sua busca, no entanto, se mostra infrutífera e Thor decide voltar para casa, em Asgard. Lá chegando, ele descobre que Loki (Tom Hiddleston, de Kong: A Ilha da Caveira, 2017) assumiu o trono e baniu Odin (Anthony Hopkins, de Transformers: O Último Cavaleiro, 2017) para a Terra, o que colocou os Nove Reinos em desarmonia.
Depois de um papo pouco amigável, Thor e Loki partem para a Terra e acabam encontrando Odin, que revela que seu tempo chegou ao fim. Não só isso, como também que a dupla tem uma irmã mais velha: Hela (Cate Blanchett, de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, 2014), a Deusa da Morte. Há milênios, Odin baniu Hela de Asgard, mas sua vida era a única coisa que a mantinha afastada. Com a sua morte, Hela não só voltaria, como deteria poderes ilimitados e provocaria a destruição de Asgard.
Defender o planeta acaba se mostrando uma tarefa muito mais complicada do que o esperado e, logo após o primeiro confronto com a vilã, os irmãos acabam indo parar em Sakaar, um planeta governado pelo Grão-Mestre (Jeff Goldblum, de Independence Day: O Ressurgimento, 2016 – acima), um governante que adora promover uma variação das lutas de gladiadores romanas. Lá, Thor é capturado por Valquíria (Tessa Thompson, de Westworld) e precisa enfrentar o campeão de Sakaar: ninguém mais, ninguém menos do que o até então desaparecido Hulk (Mark Rufallo, de Spotlight: Segredos Revelados, 2015). Não só isso: se quiser sair de Sakaar e voltar a Asgard para enfrentar Hela, Thor precisa derrotar seu companheiro Vingador.
Thor: Ragnarok é, de longe, o melhor filme solo do personagem. Apesar do excesso de piadas, vezes mal colocadas ou forçadas, e algumas cenas plasticamente exageradas, o filme tem um nível de ação superior ao de seus antecessores. Um dos maiores pontos positivos do roteiro foi beber da fonte do período em que o roteirista e desenhista Walt Simonson esteve à frente do título do personagem na Marvel. Alguns dos melhores momentos do filme, especialmente os protagonizados por Skurge (Karl Urban, de Star Trek: Sem Fronteiras, 2016 – abaixo), foram praticamente tirados das páginas dos quadrinhos escritos e desenhados por Simonson. Personagens e situações presentes no arco de histórias conhecido como Planeta Hulk, um dos favoritos dentre os fãs do personagem, serviram de inspiração para algumas das passagens mais interessantes.
Os méritos não se devem apenas ao roteiro. Todos os atores estão bem em seus papéis, tanto os novatos quanto aqueles já conhecidos dos fãs da Marvel, que estão de volta, com destaque para o Heimdall de Idris Elba (de A Torre Negra, 2017). A fotografia, que se aproveita da estética clássica dos quadrinhos da Marvel dos anos 1960, é muito boa; os efeitos especiais e visuais e a trilha sonora também estão adequados. Até porque é difícil criticar uma trilha sonora que tem Immigrant Song, do Led Zeppelin, como uma das principais músicas. Há também uma série de easter eggs aqui e ali, que apenas os mais atentos perceberão. Ah, e as cenas de lutas são algumas das melhores já apresentadas nos filmes da Marvel, especialmente a que abre a película e dá o tom de como elas serão daí em diante.
Thor: Ragnarok pode não agradar a todos. Os fãs mais xiitas vão reclamar da desvirtuação do personagem, que parece mais um comediante do que o Deus do Trovão com o qual se acostumaram nos quadrinhos. O excesso de tiradas cômicas é um fator que tira um pouco da força. No entanto, não deixa de ser o melhor esforço da Marvel com o Thor até o momento.
Duas últimas observações: fique atento para as participações surpresa de diversos atores famosos no filme e lembre-se que todo longa da Marvel contém cenas pós-créditos. Thor: Ragnarok tem duas. E, sim, Stan Lee aparece.
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