por Marcelo Seabra
O Círculo
Adaptando um livro de Dave Eggers, com roteiro do próprio e do diretor, James Ponsoldt, O Círculo (The Circle, 2017) parece querer apontar dedos e mostrar para onde estamos indo com o uso de tanta tecnologia e com cada vez menos privacidade. Mas a crítica é tão datada e superficial que lembra um longa de 1999, Ed TV, que fazia uma versão rudimentar do que O Círculo faz.
O público do Big Brother tem um novo alvo: a jovem Mae (Emma Watson), que se oferece à companhia onde trabalha, O Círculo, para ter sua vida filmada o dia todo, com pequenos intervalos para banheiro e dormir. É claro que vai dar problema, e situações exageradas são enfileiradas apenas para conduzir a história. A personalidade de Mae é ditada pelos fatos que a cercam, assim como suas ações, e ela parece levada, sem vontade própria.
Tom Hanks e Patton Oswalt são os empresários por trás das inovações tecnológicas do Círculo e fica claro o tempo todo que eles têm interesses escusos por trás. Se o público não entendeu isso, não tem problema: o personagem de John Boyega (dos novos Star Wars) está lá para avisar. A ironia é ter Ellar Coltrane no elenco, o rapaz que cresceu fazendo Boyhood (2014), praticamente uma versão ficcional e a longo prazo de um reality show.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
A crítica completa, do Rodrigo Monteiro, está publicada aqui, então farei apenas alguns comentários.
A melhor forma de definir esse De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming, 2017) é dizer que trata-se de uma volta às origens. Apesar de atualizar alguns elementos, como o uniforme dele, é o filme que melhor utiliza o humor despretensioso do herói dos quadrinhos, um garoto imaturo e bem intencionado que dispara piadas e teias com a mesma velocidade. Peter é um colegial que vive todos os dramas da idade, de bullying até ter uma queda por uma menina aparentemente intocável. E evitar uma nova história de origem foi uma ótima decisão.
Em meio aos deveres de casa, Peter tenta fazer a sua parte mantendo segura a vizinhança. Uma grata surpresa é o vilão principal, vivido pelo ótimo Michael Keaton. Ele tem os pés no chão e suas motivações trazem uma simpatia e uma dimensão a ele que outros não tiveram. Esse mundinho é bem inserido no universo Marvel, com participações saudáveis de Jon Favreau e Robert Downey Jr., que repetem seus personagens (Happy Hogan e Tony Stark) numa dose suficiente para serem importantes sem roubarem a cena.
Entre tantos acertos, o grande trunfo do diretor Jon Watts é seu protagonista. Mais uma vez comprovando o talento dos produtores na escolha do elenco, Tom Holland é um Peter Parker perfeito. Ao contrário de Tobey Maguire e Andrew Garfield, ele não parece um trintão vivendo um adolescente. Holland tem os traços que esperamos: otimismo, bom humor, insegurança e até medo. E, como ele tem apenas 15 anos, é normal que coadjuvantes esperados não apareçam, o que pode acontecer no futuro.
A Autópsia
O longa de terror (The Autopsy of Jane Doe, 2016) exibido há algumas semanas é bem sucedido em sua proposta: não preocupado em explicar muito, ele parte para a criação de um clima de suspense. Seria fácil cair nos clichês do gênero, já que a história se passa toda numa funerária, mas as situações são bem aceitáveis e os personagens, inteligentes.
Como pai e filho, Brian Cox e Emile Hirsch funcionam bem, o que seria imprescindível para um filme focado nos dois. Com diálogos discretos, os conhecemos melhor, enquanto coisas estranhas vão acontecendo após o corpo de uma desconhecida chegar para autópsia. Os outros coadjuvantes importantes, o policial (Michael McElhatton) e a namorada (Ophelia Lovibond), também casam bem com a trama. Ah, e tem a menina (Olwen Kelly) que fica nua, pálida e imóvel o filme todo, numa atuação fantástica de morta.
A casa é bem explorada, os cantos escuros se tornam ameaçadores até para os Tilden, que moram lá e estão habituados com os cadáveres. Ponto para o diretor norueguês André Øvredal, que viu o seu O Caçador de Trolls (Trolljegeren, 2010) virar cult e fez a ponte aérea para os Estados Unidos. Com roteiro da dupla de Dead of Summer (Ian Goldberg e Richard Naing), série de terror, Øvredal sedimenta uma boa carreira, que merece ser acompanhada.
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