por Marcelo Seabra
Entrando na onda dos universos compartilhados, da qual as aventuras baseadas em quadrinhos já se aproveitam, a Universal Pictures resolveu relançar seus monstros clássicos e uni-los, de alguma forma. Para dar o pontapé inicial, chega A Múmia (The Mummy, 2017). Devido à importância dessa primeira investida, que busca estabelecer um rumo e tem que fazer muito barulho nas bilheterias, o estúdio não deixou barato: escalou Tom Cruise e Russell Crowe.
A personagem Múmia é um pouco genérica, cada filme traz uma explicação por trás. Por isso, ela já foi Imhotep (na pele e ataduras de Boris Karloff e Lon Chaney Jr., além do mais recente Arnold Vosloo), Kharis (Christopher Lee) ou apenas “a múmia”, sem nome próprio. São setenta aparições listadas, entre filmes, séries e animações, e boa parte delas é paródia, como as versões de Scooby-Doo e Frango Robô. Dessa vez, ela é a Princesa Ahmanet, vivida por Sofia Boutella (famosa por Kingsman e Star Trek: Sem Fronteiras).
Quando a história começa, nos vemos no meio de atos de terroristas iraquianos contra monumentos milenares, algo que até na ficção corta o coração, de tão sério. Mas a produção não pretende se aprofundar no assunto, apenas se apropria dele para dar um contexto ao anti-herói Nick Morton (Cruise), um militar que aproveita as horas vagas para roubar itens históricos valiosos para futura venda no mercado negro. Ao lado da arqueóloga Jenny Halsey (Annabelle Wallis, de Rei Arthur, 2017), ele encontra a tumba de uma múmia egípcia que vai se mostrar um grande perigo para a humanidade. E será também uma ótima oportunidade para copiar vários filmes, a cada minuto vem um à mente – principalmente Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, 1981), algo que fica descarado.
Pelas linhas acima, dá para perceber que mulheres, nessa trama, só têm dois papéis: vilãs malignas ou mocinhas em perigo. O peso recai todo sobre os mocinhos: o sargento de moral duvidosa que, lá no fundo, parece ser boa gente; e o chefe de Halsey, o Dr. Henry Jekyll (Crowe, de Dois Caras Legais, 2016), do qual se pretende fazer algum suspense, mas lhe dão o nome de um dos mais famosos personagens da literatura mundial. Como O Médico e o Monstro já caiu em domínio público, foi possível juntá-lo ao caldo – que, tendo em vista o catálogo da Universal, já é grosso. Ele deve transitar pelos diversos filmes, como uma espécie de Nick Fury, em referência ao Universo Marvel. E, por falar em Marvel, não espere em A Múmia por uma cena pós-créditos.
Os exageros, entre tiroteios, explosões e demais cataclismas, estão presentes o tempo todo. Quem espera por sustos ou clima de terror vai se desapontar. Não faltam cenas de Cruise correndo, como não poderia deixar de ser, e por vezes esperamos que ele revele ser o agente Ethan Hunt (de Missão: Impossível), ou mesmo Jack Reacher. Não à toa, um dos roteiristas aqui é Christopher McQuarrie, que dirigiu Cruise nas duas franquias, além de ter escrito outros dois filmes do astro. Alex Kurtzman, o terceiro diretor a aceitar a tarefa, tem uma carreira longa como roteirista e produtor, mas apenas um crédito anterior como diretor, e parece ser apenas uma escolha pro forma, alguém para assinar, já que produziria o longa de qualquer jeito.
Na expectativa de fundar o Dark Universe, a Universal dispensou aquele Drácula da História Nunca Contada (de 2014), que não teve uma aceitação muito boa, e colocou as fichas nesse A Múmia. Mas não se espante caso Luke Evans venha a frequentar a nova franquia, o que é totalmente possível. No futuro próximo, teremos um filme solo do Dr. Jekyll, o Homem Invisível (Johnny Depp) e o monstro de Frankenstein (Javier Barden), já escalados, além de outro Drácula, outro Van Helsing, O Monstro da Lagoa Negra, O Fantasma da Ópera, O Corcunda de Notre-Dame e a Noiva de Frankenstein. E a Universal ainda pode enfrentar uma briga judicial com a D.C., que pretendia usar o título para sua Liga da Justiça Sombria.
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