por Marcelo Seabra
Logo no início, há uma conversa entre Franco (vivido por Emílio Orciollo Netto, de E Aí…Comeu?, 2012) e um colega de Harvard (Klebber Toledo) que deixa claro para qual lado pendem as ideias de cada um. Ele é acusado de neoliberal e desumano, enquanto o amigo é taxado de algo hoje conhecido como “esquerda caviar”. Por isso mesmo, essa conversa está mais atual do que nunca, já que as pessoas desfazem amizades e se afastam da família por não aturarem “coxinhas” ou “mortadelas”. Orciollo Netto, desde o início, mostra que vai depender de alguns maneirismos repetitivos para compor o personagem, como ajeitar os óculos e colocar dois dedos na bochecha.
Alguns nomes muito falados nos jornais da época, como Pedro Malan, Persio Arida, André Lara Resende, Edmar Bacha e Winston Fritsch, ganham novas caras. Clóvis Carvalho, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, tomou a frente das reuniões e era o gestor da equipe. FHC, tido como pai do Plano Real, só mostrava as caras para pedir resultados e ouvir as conclusões. Se o Real teve um pai, o filme insiste que se trata de Gustavo Franco. Em entrevistas, Itamar atribuiu o sucesso do plano aos vários ministros da Fazenda que teve, mas só vemos Fernando Henrique e Rubens Ricupero (Ricardo Kosovski), que entrou na vaga quando FHC saiu para se candidatar à presidência.
Se percebemos o deputado Serra (Arthur Kohl) como uma figura não muito interessada em resolver o problema do Brasil, focado apenas nas eleições, FHC já aparece como um senhor bonzinho que visa o bem de todos. Não é o interesse aqui entrar em possíveis maracutaias da era FHC – o Ministro das Comunicações Serjão Motta, por exemplo, passa rapidamente na tela, e ele estaria envolvido em fraudes nas vendas de teles e na chamada “compra da reeleição”. Mas todos ficam muito corretos na tela, o que demonstra claramente uma simpatia com a direita. Itamar é um galinho de briga ligeiramente burro, fácil de ser zombado. E Franco, que ridiculariza o Partido dos Trabalhadores e seus adeptos, parece falar pelos realizadores.
Desde o trailer de Real, as referências a Quentin Tarantino já eram óbvias. Não satisfeito, o diretor Rodrigo Bittencourt, que diz em entrevistas querer valorizar o Cinema nacional, ainda cita o colega ao nomear faixas de sua autoria para a trilha sonora, buscando com todas as forças emular o estilo do norte-americano. Há ainda uma chamada Nirvana-style (ou algo assim), trazendo um pouco do grunge que tocava no rádio na época. Tudo isso para, a exemplo de A Grande Aposta (The Big Short, 2016), tornar palatável para o público um assunto pesado. O que é engraçado se pensarmos que, sempre que busca mostrar seus personagens pensando e tentando chegar a uma saída, eles são vistos escrevendo fórmulas matemáticas ininteligíveis.
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Olá,
Recomendo vivamente o seu blog/site.
Gostei muito do seu Post.
Obrigado
Pedro Miguel