Feud leva para a TV famosa briga de Hollywood

por Marcelo Seabra

Batendo recorde de audiência em sua estreia norte-americana, com mais de 5 milhões de espectadores, Feud chegou ao Brasil em 12 de março, na Fox, e já se encaminha para a conclusão. A série, em oito episódios, é construída em torno da eterna disputa entre duas grandes atrizes do Cinema. Bette Davis (Susan Sarandon) era tida como um grande talento, com seus dois Oscars e várias indicações, mas se ressentia de não se achar bonita. Já Joan Crawford (Jessica Lange) tinha sido a “garota mais bonita da América”, mas não se via respeitada como atriz. E ambas, por serem mulheres, se sentiam diminuídas numa Hollywood extremamente machista.

A série nos apresenta às duas quando elas já estavam mais velhas e, por isso, com dificuldade para encontrar papéis. Até que Crawford descobre um livro que imediatamente chama a sua atenção, e procura o amigo cineasta Robert Aldrich (Alfred Molina) para fazerem a adaptação. Para viver as irmãs de O Que Aconteceu com Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?, 1962), seria necessário contar com duas estrelas, e começa a luta entre Crawford e Davis (abaixo, o original e a reconstituição). E a história do filme é propícia para as desavenças: duas irmãs que foram famosas, vivendo juntas no ocaso de suas vidas, enquanto uma delas ainda busca uma volta por cima. O tom noir da atração nos deixa apreensivos, esperando que a qualquer momento exploda uma guerra.

O elenco de apoio, que conta com Molina (de O Amor É Estranho, 2014), Judy Davis (de A Vingança Está na Moda, 2015), Stanley Tucci (da franquia Jogos Vorazes) e Catherine Zeta-Jones (de Terapia de Risco, 2013), com pontas de Kathy Bates e Sarah Paulson, é ótimo. Mas o show é de Sarandon (de O Acordo, 2013) e Lange (de American Horror Story), duas atrizes fantásticas que entram muito bem em seus papéis e retratam as nuances de Davis e Crawford, sem atenuar nada. Enquanto Davis era mais transparente e até cruel em suas provocações, nunca fingindo gostar de alguém, Crawford tentava jogar o jogo de Hollywood, sendo amável pela frente e tramando pelas costas.

Depois dos sucessos de Popular, Nip/Tuck, Glee, American Horror Story, Scream Queens e American Crime Story, Ryan Murphy pode se considerar o maior produtor da TV em atividade, e Feud foi mais um grande acerto. Além de uma reconstituição de época impecável, incluindo aí os sets retratados, uma trilha sonora discreta e acertada (que inclui até The End, dos Doors) e roteiros bem amarrados, que situam bem o espectador, a série ainda proporciona discussões importantes. Se a sociedade, de forma geral, já trata mal os mais velhos, o que dizer do mundo do Cinema? “Você tem avó? Ligue para ela”, recomenda uma personagem, apontando a solidão na qual os idosos são deixados. Enquanto homens eram tidos como maduros, mulheres eram esquecidas, relegadas a produções menores quando encontravam trabalho.

Como acontece com Crime e Horror, Feud também é uma antologia, contando histórias diferentes a cada temporada. Por isso, traz o subtítulo Bette and Joan. Para a próxima, Murphy já anunciou que vai acompanhar a família real britânica, mais especificamente o Príncipe Charles e Lady Diana. Sem dúvida, será outro sucesso na carreira do produtor, roteirista e diretor. E Lange e Sarandon devem disputar todos os prêmios que vierem pela frente, com uma diferença fundamental: são amigas.

Davis e Crawford, na Era de Ouro do Cinema

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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