A turma de Trainspotting volta para a sequência

por Marcelo Seabra

Vinte anos depois, reencontramos Rent-boy, Sick Boy, Spud e Begbie. Todos perto dos 50, mas não exatamente respeitáveis. Trainspotting 2 (2017) nos leva de volta àquele universo com todos os elementos que fizeram o sucesso do primeiro filme, costurados por uma novidade: a nostalgia. O filme é válido para todos os públicos, mas quem tem idade suficiente para ter visto o original na época em que foi lançado vai ter ainda mais simpatia por ele.

Novamente baseado em um livro de Irvine Welsh, com roteiro de John Hodges e direção de Danny Boyle, T2 traz Mark Renton (Ewan McGregor) de volta a Edimburgo duas décadas após ele roubar seus amigos e fugir. Sick Boy (Jonny Lee Miller), que agora atende por Simon, vive de pequenos golpes numa estranha relação com a jovem namorada (a búlgara Anjela Nedyalkova); Spud (Ewen Bremner) continua na vida arriscada de viciado, pegando pequenos trabalhos para poder comprar drogas; e Frank “Franco” Begbie (Robert Carlyle) ainda amarga alguns anos na cadeia. Ao chegar na cidade, Renton procura sua família e seus antigos amigos, e descobrimos que caminhos a vida dele tomou. Até Kelly McDonald, que teve sua estreia no Cinema em 96, como a colegial Diane, aparece para dar um alô.

Como Trainspotting tomou uma aura de cult, sempre se falou em uma possível continuação. Aumentando o barulho, Welsh lançou Pornô em 2002. O livro foi utilizado para esse novo roteiro, apesar de não ser uma adaptação fiel. Mas havia outro problema: depois de três parcerias, Boyle convidou outro ator (no caso, Leonardo Di Caprio) para seu novo projeto (A Praia, 2000) e McGregor se sentiu traído, ou algo assim. Foi preciso uma década e meia para que eles se reaproximassem (ao lado) e fizessem a alegria dos fãs, que aguardavam por uma nova aventura dessa turma.

A nostalgia está presente em T2 em várias esferas. Os personagens se lembram daqueles dias nos anos 90 com muito carinho – o que nos proporciona muitos flashbacks. Ver o presente entrelaçado com o passado já reforça bem essa sensação. Ter os atores com menos cabelo e mais rugas, provavelmente sem se verem há muito tempo, também nos leva nessa direção. E até o público deve se pegar pensando nesses últimos vinte anos, no que aconteceu, no que fizeram de suas vidas. O momento do lançamento de Trainspotting foi muito acertado, capturando o espírito de uma época. E qual seria o espírito de agora? O que a sequência deveria mostrar, ou suscitar em seu público?

Apesar de ter assumido alguns projetos mais convencionais nos últimos anos, Danny Boyle mostra que continua afiado na arte de entregar um filme divertido, com uma linguagem moderna, montagem ágil, trilha sonora bem adequada e até elementos visuais que ajudam a contar a história. Lust for Life, música de Iggy Pop e David Bowie, continua tendo um papel importante. Música principal do primeiro filme, ela acaba funcionando como um tema e é utilizada aqui de forma muito inteligente, mais uma vez remetendo à ideia de nostalgia, representando os bons tempos que se foram. Se Boyle mantiver esse padrão de qualidade, estes bons tempos estarão sempre por aí.

O longa original fez um sucesso inesperado em 1996

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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