Kong volta a atacar em aventura divertida

por Marcelo Seabra

Em 2005, Peter Jackson resolveu dar a King Kong o tratamento que o gorilão merecia, mas entregou um filme frio, que chamou mais atenção por seus defeitos que por seus acertos. Em 2017, voltamos a ver o personagem na tela grande, mas com uma diferença fundamental: trata-se de uma das mais divertidas aventuras dos últimos anos. Kong: A Ilha da Caveira (Kong: Skull Island, 2017) traz uma equipe formada por militares e cientistas que vão visitar a misteriosa ilha sem saber que estão prestes a se deparar com o maior primata do mundo.

Sem uma relação clara com o King Kong de 1933 ou suas refilmagens, não sabemos exatamente se trata-se de uma história independente, um reboot ou de uma pré-continuação. Mas ela é ambientada durante a presidência de Richard Nixon, no fim da Guerra do Vietnã, o que a colocaria após a original. Com um enredo simples, o filme se beneficia de um bom elenco, ótimos efeitos visuais e sonoros e uma montagem ágil, que não deixa o ritmo cair. A equipe conta com membros de etnias diferentes e ambos os gêneros, o que mostra uma preocupação com a diversidade tão buscada nesses dias. Ponto para o pouco conhecido Jordan Vogt-Roberts (de Os Reis do Verão, 2013), que comanda a festa.

O personagem de John Goodman (de Rua Cloverfield, 10, 2016 – acima), Bill Randa, trabalha para uma corporação ligada ao governo e consegue, junto a um senador (Richard Jenkins, de Rastro de Maldade, 2015), autorização para explorar uma ilha desconhecida, cercada por tempestades eternas, que teria um ecossistema próprio, diferente de tudo o que conhecemos. O objetivo seria estudar e aprender, mas Randa parece ter sua agenda escondida. Para a missão, são reunidos alguns burocratas, um biólogo (Corey Hawkins, de Straight Outta Compton, 2015), uma geóloga (Tian Jing, de A Grande Muralha, 2016), uma fotógrafa (Brie Larson, de O Quarto de Jack, 2016) e um bocado de militares, liderados pelo Coronel Packard (Samuel L. Jackson, de Os Oito Odiados, 2015). Como Randa tem receio do que irá encontrar lá, convoca também um rastreador experiente (Tom Hiddleston, o Loki da Marvel).

Packard e seu pelotão estão se preparando para deixar o Vietnã, já que Nixon mandou as tropas voltarem. Mas fica muito claro que o coronel não se adaptaria à vida na cidade e ele abraça a oportunidade de continuar em missão. Quem não fica muito feliz com a notícia são os soldados, mas eles o acompanham fielmente. A fotógrafa de Larson sabe que há algo inusitado com relação à ilha e já tem um Pulitzer em vista quando entra no navio. As mulheres são bem tratadas pelo roteiro, não são apenas damas em perigo. E Conrad, o especialista em encontrar pessoas, topa pelo dinheiro, o mercenário de plantão. Ele faz o tipo machão de sempre, mas é respeitoso, educado e eficiente, o que foge bem do estereótipo.

Os personagens do filme são rasos, mas interessantes o suficiente, e as relações entre eles são bem críveis. Kong mantém as características que conhecemos e a dinâmica é a mesma dos filmes anteriores: ele ataca como revide, nada é gratuito. O experiente Terry Notary dá vida ao gorila através de captura de movimentos, como fez na franquia do Planeta dos Macacos – ao lado de Toby Kebbell, que também está no elenco. Há ainda uma participação muito bacana de John C. Reilly (de Os Guardiões da Galáxia, 2014), sempre uma figura que vale a pena acompanhar, e uma ponta do cantor Miyavi (de Invencível, 2014).

Outra característica que chama a atenção é a trilha sonora. A original, grandiosa na medida, casa bem com as cenas de perigo, e a parte no Vietnã conta com músicas consagradas com o peso de Creedence, Jefferson Airplane, Stooges, Hollies, David Bowie, Black Sabbath e até o nosso Jorge Ben. Os ótimos efeitos visuais permitem ver a textura do pêlo de Kong, o movimento da água e até as criaturas fantásticas, que entram no meio da ação tão naturalmente que até compramos a ideia. O casamento de todas essas qualidades dá, como resultado, o que costumamos chamar de “sessão da tarde”, ou seja, entretenimento para ninguém botar defeito. E não perca a cena escondida!

Samuel L. Jackson lidera os militares

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • É o pior filme que vi nos últimos anos. Uma vergonha. Um caça-níquel dos piores.

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