por Marcelo Seabra
Famoso para o grande público internacional desde sua comovente atuação em Intocáveis (Intouchables, 2011), François Cluzet volta a misturar drama e comédia em Insubstituível (Médecin de Campagne, 2016), que chega aos cinemas essa semana pela Cineart Filmes. Naquele mesmo tom sério que, volta e meia, é atropelado por algo cômico, Cluzet vive um médico do interior que descobre estar doente e precisa achar um substituto para poder se ausentar. E ainda nos dá a oportunidade de conhecer um pouco da vida numa pequena cidade da França.
Provando aquela máxima de que os próprios médicos são seus piores pacientes, o Dr. Jean-Pierre Werner (Cluzet) descobre um tumor no cérebro e, junto com notícia, recebe a recomendação de descansar e se dedicar ao tratamento. Acostumado a longas jornadas de trabalho, Werner é o único médico em uma cidadezinha a muitos quilômetros do hospital mais perto. Dividindo seu dia entre os atendimentos em seu consultório e as visitas à população, o doutor não vê como poderia parar para se tratar. Deixar a comunidade na mão é algo impensável e ele segue em sua rotina extenuante.
Seguindo a indicação de seu médico, Werner recebe a Dra. Nathalie Delezia (Marianne Denicourt, de Hipócrates, 2014) e começa a treiná-la como sua auxiliar, deixando-a no escuro quanto à sua doença. Numa cidade onde todos estão acostumados com o Dr. Werner, é de esperar que haverá problemas com a Dra. Delezia. E o veterano não vai largar o osso facilmente. Enfermeira experiente, Nathalie resolveu partir para a medicina mais tarde, e não se identificou com o trabalho no hospital geral. Daí, a opção pelo campo.
Os sintomas de Werner são um pouco estranhos. O tumor no cérebro deve estar comprimido nervos ópticos e auditivos e as consequências vão se manifestando aos poucos. Por isso, ele só vê metade do prato de comida, por exemplo, o que não é muito crível. Experimente olhar para uma pizza e tampe um olho. Você a vê inteira, e não apenas um lado, certo? O outro sintoma é sentir cheiro de queimado, o que não deixa de ser curioso, apesar de possível. E, uma vez começado o tratamento, os efeitos da quimioterapia não podem ser percebidos. Enquanto um vizinho de cadeira está careca, Jean-Pierre permanece como estava.
O belo trabalho de Nicolas Gaurin (também de Hipócrates) nos revela uma fotografia singela, que capta muito bem a beleza e a simplicidade do campo. Se o roteiro, assinado pelo diretor, Thomas Lilti, e Baya Kasmi (ambos também de Hipócrates), não guarda grandes surpresas, é nos detalhes que Insubstituível ganha seu público. As interpretações dos protagonistas são primorosas, assim como a dos coadjuvantes, que dão vida à vila e trazem graça a seus diálogos. Para quem gosta de filmes de costumes, é um prato cheio.
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Impressionante a sua grande semelhança com o Dunst Hoffman, tanto que fiz a busca pelo próprio.