por Marcelo Seabra
Vivido por três atores em momentos diferentes da vida (Alex Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes), Chiron é filho de uma mãe viciada (Naomie Harris, de 007 Contra Spectre, 2016) e pai desconhecido. Um dia, sem razão alguma, ele aceita a companhia de um desconhecido (Mahershala Ali, de Estrelas Além do Tempo, 2016 – abaixo) e vai comer com ele. O tal sujeito acaba se tornando a figura paterna que faltava, e se mostra carinhoso e compreensivo com o menino. É interessante notar que Paula, numa ótima atuação de Harris, é uma vítima por ser drogada, mas maltrata o filho tanto que ele prefere ficar fora de casa. Já Juan, o pai postiço, é o traficante que fornece para Paula e ajuda a dificultar o ambiente domiciliar dela, provendo ao garoto um muito melhor – com a namorada, Teresa (Janelle Monáe, também de Estrelas). Nada premeditado, mas está tudo conectado e os papéis, invertidos.
Crescendo em meio a essa situação, a mãe de um lado, Juan e Teresa de outro, Chiron sofre nas mãos de fortões por ser miúdo e ter trejeitos que indicam uma possível homossexualidade. O roteiro ainda dá uma forçada no estereótipo colocando o menino, antes calado e tímido, se soltando em uma aula de dança. Para, na sequência, voltar a ser o amuado de sempre. O relacionamento com os colegas não é muito fácil, o que o faz ser solitário e se fechar cada vez mais. E assim o acompanhamos ao longo de poucos anos, quase como um novo Boyhood (2014), e conferimos os caminhos seguidos por ele.
Assim como no igualmente muito falado Precious (2009), várias características dramáticas se sobrepõem, tornando o resultado um pouco exagerado. Duas coisas parecem ter trabalhado a favor de Moonlight: a precisão de seu diretor e roteirista, Barry Jenkins (de Medicine for Melancholy, 2008), tecnicamente impecável, e as atuações, todas niveladas por cima. Jenkins, que baseou o roteiro na peça de Tarell Alvin McCraney, faz opções elegantes e cria cenas poéticas, além de conduzir bem seus três Chirons, para que eles mantenham traços similares e ainda demonstrem uma evolução. Ali, muito elogiado e premiado por seu trabalho, não faz muito além de repetir maneirismos vistos em Luke Cage, só muda de figurino. A risada pausada, o jeito calculado de ser ameaçador… Tudo em sua composição lembra projetos anteriores, além de passar pouquíssimo tempo em cena. Mesmo assim, levou o prêmio do Sindicato dos Atores e é favorito ao Oscar como Melhor Ator Coadjuvante.
Tendo agradado a crítica de uma forma devastadora e com altíssimo aproveitamento em sites agremiadores, Moonlight tem uma bela carreira pela frente nos cinemas. Uma pena que, ao invés de aproveitar o barulho do Oscar, com suas oito indicações, a Diamond Films Brasil tenha optado por uma estreia três dias antes da premiação. Quem quiser formar opinião para dar palpites entre os indicados vai ter um prazo curto.
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