por Marcelo Seabra
Se a continuação já era dispensável, o que dizer de O Chamado 3 (Rings, 2017)? Doze anos depois, a história de Samara Morgan continua, e foi preciso inventar muita coisa para ter sentido fazer outro filme. E, ainda assim, faltou conteúdo, suspense e interesse. O espanhol F. Javier Gutiérrez até tenta modernizar a história e criar apelo visual, mas fica difícil conseguir algum avanço sem conteúdo, o que prova que a garota do poço já foi exaurida.
Todos conhecem a lenda urbana da menina que aparece sete dias após você assistir à fita e te mata. Houve uma época em que a americanização dos terrores japoneses estava em alta e, para todo lado, tinha aqueles meninos de cabelo preto fazendo uns barulhos estranhos e se movendo de maneira errática. No meio dessa moda, chegou aos cinemas a nova versão de Ringu, romance de Kôji Suzuki. O Chamado (The Ring, 2002) fez barulho suficiente para originar uma sequência em 2005, e a franquia parecia ter morrido ali. Mas por que deixar a menina no fundo do poço, quietinha, se pode-se ganhar mais alguns trocados?
O novo nome original inova apenas incluindo um plural, que pode ser traduzido como anéis. Não deixa de ser interessante, já que aquela marca redonda, iluminada sobre um fundo negro, passa a ter outra conotação. Há um casal pós adolescente para iniciar a trama, um mais insosso que o outro. E convidaram um ator conhecido, do sucesso da TV The Big Bang Theory, para tentar chamar atenção. Johnny Galecki vive Gabriel, um professor universitário que estuda o “fenômeno” Samara e joga seus alunos pras cobras usando-os como cobaias. Andando por uma feira de rua, o sujeito tem a brilhante ideia de comprar um vídeo-cassete usado e ganha de brinde uma fita com uma etiqueta: “Me assista”. Sabemos de onde vem a fita devido à introdução, parte menos chata do longa.
É óbvio, nos dias de hoje, que quem dependesse de um vídeo-cassete para sobreviver iria morrer rapidinho. Por isso, outra inovação do roteiro – escrito a seis mãos – é permitir a digitalização do vídeo maldito, tornando mais fácil a cópia, o transporte e a viralização. E, claro, possibilitando mais continuações para encher a paciência do desavisado que for ao cinema. Não há qualquer aspecto técnico que chame a atenção, apenas os cenários escuros de sempre, com igrejas, cemitérios e cidadezinhas. Foi preciso colocar água no feijão e criar mais passado para Samara, para que possa haver uma investigação, o que aproxima esse filme do primeiro. E as regras daquele universo vão sendo dobradas de acordo com a necessidade.
O mistério que os personagens parecem proteger, ao mesmo tempo em que jogam informações no ar, irrita com pouco tempo de projeção. É um segredo, mas pode-se dar pistas e deixar recados com terceiros, numa tentativa vã de criar curiosidade no espectador. Os diálogos, altamente expositivos, deixam mais do que claro o que está acontecendo, com tudo muito explicadinho. E a busca dos protagonistas por respostas acaba levando-os a uma figura proposital e forçadamente enigmática, vivida por um Vincent D’Onofrio (de Sete Homens e Um Destino, 2016) extremamente canastrão. A única curiosidade, de fato, é a atriz que vive Samara dividir o sobrenome com ela: Bonnie Morgan, numa versão mais velha.
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Pelo menos esse foi melhor que o segundo. Porém nem se compara com o primeiro do Gore Verbinski.