por Marcelo Seabra
Um filme sobre nada em especial. Mas, ao mesmo tempo, sobre tudo. Pode parecer contraditório, mas essa é uma boa forma de descrever Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea, 2016), drama que chamou bastante atenção em festivais, deu um Globo de Ouro a seu protagonista e promete emplacar algumas indicações no Oscar. O filme engana em sua simplicidade, tratando de temas complexos, e consegue inserir um humor discreto e bem-vindo em meio a momentos mais pesados.
Conduzindo a trama está Casey Affleck, há dez anos atrás indicado ao Oscar como coadjuvante por O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007). Já acostumado ao papel principal (como em Medo da Verdade, 2007), ele vive aqui Lee Chandler, um zelador de um conjunto de prédios que parece se esconder da vida. Bom no que faz, ele se contenta em desentupir pias e privadas, tirar o lixo e atividades similares, mesmo demonstrando potencial para ir além. Seu temperamento não é dos melhores e vez ou outra ele tem problemas de relacionamento com algum morador. Ou por ter arrumado briga no bar próximo. Sozinho em uma Boston cinzenta, ele mora em um quarto cedido pela administradora dos prédios.
Em meio a essa mesmice, Lee é surpreendido pela notícia de uma morte em família e precisa voltar a Manchester, onde moram seu irmão (Kyle Chandler, de Bloodline) e o sobrinho (Lucas Hedges, de Moonrise Kingdom, 2012). Entre flashbacks e o presente, acompanhamos os fatos que levaram Lee à situação atual e o que ele faz frente à tragédia que abateu sobre sua família. A montagem ágil de Jennifer Lame (de Cidades de Papel, 2015) não deixa o público perdido e revela as informações quando são necessárias, montando o quadro dos Chandlers. O diretor e roteirista Kenneth Lonergan, originalmente um dramaturgo, tem um texto afiado, diálogos enxutos e consegue passar longe do dramalhão no qual o filme poderia ter caído.
Outra figura importante a ser mencionada é a própria cidade de Manchester. Contrastando com as nuvens de Boston, ela sempre aparece ensolarada, mesmo no frio, metáfora interessante para a alternação constante entre tristeza e alegria no roteiro, bem como acontece na vida. A fotografia de Jody Lee Lipes (de Descompensada, 2015) reforça essas diferenças e torna a sessão ainda mais prazerosa. Um pouco longo, com seus quase 140 minutos, o filme não se torna cansativo, fechando suas pontas e abrindo outras possibilidades. Como na vida.
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