por Marcelo Seabra
Depois de nove videogames na cronologia oficial, mais outros tantos derivados, e livros e revistas em quadrinhos, já era hora da Ubisoft lançar seu produto de maior sucesso no Cinema. E eis que surge Assassin’s Creed (2016), aventura que marca a chegada da franquia à tela grande e parte para uma história nova, nos apresentando a personagens inéditos. Mas a preocupação dos realizadores com a fidelidade ao jogo parece tão grande que eles se esquecem que, antes de mais nada, estão fazendo um filme, uma obra que deve existir por si só e deve agradar a todos os públicos, e não apenas àqueles que vão ficar procurando elementos conhecidos e se divertindo com isso.
Para os fãs do jogo, que estão acostumados a “viver” aquelas figuras e criar suas histórias de acordo com os rumos que tomam, deve ser cansativo ficar assistindo a tudo mastigado. E quem não é fã fica se perguntando como o sujeito deu aquele pulão de uma construção enorme e sobreviveu, já que não conhece o recurso do “salto de fé”. Ou não entende pra quê toda hora aparece uma águia sobrevoando e levando a câmera consigo se não sabe o que é a “visão aquilina”. As missões eram geralmente divididas em dois tipos: matar alguém ou recuperar algo. A história do filme, mesmo sendo nova, segue exatamente os passos das antecessoras, com um homem no presente acessando as memórias genéticas de um antepassado e revivendo tudo aquilo na busca por um artefato.
O novato, no caso, é Callum Lynch (Michael Fassbender, o Magneto mais jovem dos X-Men), um condenado à morte do qual sabemos pouco. O vemos quando pequeno e logo ele está aguardando sua execução. No entanto, ele é recrutado para um projeto bilionário que busca as memórias genéticas das pessoas, chegando aos antepassados delas para conseguir informações importantes. Aqui, o objetivo é achar a maçã do Éden, aquela do pecado original, que traria a semente para a desobediência civil e permitiria acabar com a violência. Sim, essa é a trama do longa. Nesse ponto, já dá vontade de sair correndo – mesmo que você seja criacionista, é muito difícil comprar essa ideia.
A ingênua cientista Sofia Rikkin (Marion Cotillard, de Era uma Vez em Nova York, 2013) está à frente do projeto, desenvolvendo a tecnologia e o conceito por trás da Animus, máquina que permite a recuperação das informações. Ao ser preso à Animus, Lynch se conecta ao ancestral Aguilar de Nerha e vai parar na Inquisição Espanhola. É quando ele toma conhecimento de um embate milenar: Assassinos contra Templários. E, desde o início, vemos Jeremy Irons (o novo Alfred de Batman vs Superman) onde não deveria, o que deixa claro suas intenções. Ele vive o pai de Sofia, Allan Rikkin, o Templário que controla as indústrias Abstergo, bancadas pela fortuna da classe secreta para descobrir a tal maçã do Éden. E o elenco ainda desperdiça Brendan Gleeson (de No Coração do Mar, 2015) e Charlotte Rampling (de 45 Anos, 2015).
O diretor, Justin Kurzel, vem do bem sucedido Macbeth (2015), no qual trabalhou com a dupla Fassbender-Cotillard. Um dos roteiristas, Michael Lesslie, também vem de lá. Já os outros dois (Adam Cooper e Bill Collage) são parceiros habituais e respondem por bombas como Convergente (da franquia Divergente) e Carga Explosiva: O Legado (2015). Por mais talentoso que seja o cineasta e seus atores, a falta de um roteiro que preste sempre será sentida. Que o diga Duncan Jones e seu Warcraft (2016), outra adaptação recente de jogo. É impressionante como, com tanta informação jogada na tela, o roteiro escrito a seis mãos ainda seja uma colcha de retalhos. Além de furado, tudo é extremamente previsível, o que acaba com qualquer possibilidade de suspense ou tensão. Várias perguntas surgem na cabeça enquanto a ação se desenrola, quando a trilha sonora altíssima te deixa pensar – cortesia do irmão músico do diretor, Jed Kurzel, muito mais discreto e certeiro em Macbeth.
Para não dizer que tudo em Assassin’s Creed é uma porcaria, sobram os efeitos visuais. Esses, sim, fazem valer os US$ 125 milhões do orçamento. A fotografia de Adam Arkapaw (de A Luz Entre Oceanos, 2016) se mistura bem aos elementos inseridos posteriormente e nos dá imagens impressionantes, que funcionam ainda melhor nas salas IMAX. O tamanho da tela e a profundidade do 3D permitem ver os detalhes da cidade espanhola do século XV, tudo muito rico e criativo. Mas estilo é o que não falta à produção: os personagens caem e lutam como super-herois, sempre com direito a pausas dramáticas. Algo que funcionava, por exemplo, em The Matrix (1999), mas não aqui. Os golpes desferidos e as caretas que os seguem só tornam a falta de sentido do roteiro mais triste. É mais um filme cercado por expectativas, inclusive dos estúdios que bancaram a produção, que deve dar em nada.
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