por Marcelo Seabra
Em seu terceiro longa de ficção de grande alcance, o diretor e roteirista Derek Cianfrance mais uma vez se foca em um casal interessante para contar uma história dramática. Agora, beirando o melodrama, com todos os elementos cênicos focados em tirar lágrimas do público. A Luz Entre Oceanos (The Light Between Oceans, 2016) é bom o suficiente para conseguir trazer emoções à tona, mas percebemos exageros facilmente, potencializando a choradeira.
Em Namorados Para Sempre (Blue Valentine, 2010), Cianfrance narra a conturbada e destrutiva paixão entre os personagens de Ryan Gosling e Michelle Williams. Em O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond the Pines, 2012), o mesmo Gosling se torna um criminoso para sustentar sua amada (Eva Mendes) e o filho deles. Agora, é a vez de Alicia Vikander (de Jason Bourne, 2016) e Michael Fassbender (o Magneto mais jovem), e a química deu tão certo que eles se tornaram de fato um casal. Ambos são lembrados por terem vivido robôs – ela em Ex_Machina (2015), ele em Prometheus (2012) -, mas não têm problemas em externar emoções. Enquanto Vikander tem uma personagem que permite maior expressão, Fassbender fica sempre muito discreto, se segurando, como conseqüência do passado na guerra de Tom. Não confundir introspecção com falta de expressão, a passividade de Fassbender fala muito.
Buscando fugir do mundo, após os tais traumas da Primeira Guerra, Tom procura uma empresa que cuida de faróis e se inscreve para ser o faroleiro em uma pequena ilha numa costa provavelmente australiana. Saber que o profissional anterior ficou louco não o incomoda, e a solidão será uma constante. Mas Tom tem a felicidade de conhecer Isabel (Vikander), eles logo se casam e vão dividir a ilha. Um barquinho à deriva vai mexer na realidade deles e trazer alguns conflitos. Na literatura, a história fez bastante sucesso, lançada pela australiana M.L. Stedman em 2012. No mesmo ano, os direitos de adaptação foram adquiridos
Um discurso proferido por Tom em determinado momento diz muito de seu comportamento e das escolhas de Fassbender para compô-lo. Ter voltado da guerra, em meio a tantas vítimas, deixou-o com um questionamento fundamental: “por que eu?” Com tanta gente tendo sido morta, qual é o papel do sobrevivente? Ele deve algo a alguém? Essas são apenas algumas questões colocadas pelo roteiro. Do meio em diante, outras surgem, agora envolvendo também a personagem de Rachel Weisz (de O Legado Bourne, 2012). Os três parecem indivíduos críveis, movidos por inteligência e sentimento, sem maniqueísmo ou conveniência. A única coisa que incomoda é o esforço para fazer o público chorar, combinando closes em rostos tristes e uma trilha sonora um pouco apelativa. Mas, apenas levando em consideração o trio principal, o preço do ingresso é um ótimo investimento. E a belíssima fotografia é o bônus.
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