por Marcelo Seabra
Com tantos brinquedos frequentemente ganhando vida no Cinema, chegou a vez dos bonequinhos Trolls (2016). A DreamWorks produziu a animação que põe os bichinhos para cantar, dançar e abraçar, as coisas que eles mais gostam de fazer. Para o público infantil, as cores e números musicais devem prender a atenção e animar o suficiente. Para os pais e desavisados que resolverem conferir, é um festival de lugares-comuns, mensagens positivas irritantes e metáforas óbvias. Tudo com muita cor, claro.
Datando de 1959, a criação do dinamarquês Thomas Dam era de madeira, feita para presentear a filha no Natal. Logo, tornou-se mania na cidade e hoje é um bonequinho de plástico com muito cabelo, sempre para cima, também chamado de troll da sorte, encontrado em qualquer loja. Não a toa, antes da sessão do filme, podemos conhecer uma infinidade de produtos criados para faturarem com a imagem dos bichinhos. Bonecos, álbuns de figurinha, músicas e a lista é enorme. Pobres dos pais, que sairão do cinema com os filhos teleguiados, buscando os produtos.
Visto rapidamente na franquia Toy Story, o boneco ganhou diversos personagens, compondo uma espécie de vale dos trolls. Após fugirem de seus inimigos, os ogros chamados Bergens, os trolls têm vinte anos de paz e alegria, governados pelo rei Peppy (voz de Jeffrey Tambor, de O Contador, 2016). Quando são descobertos pela cozinheira Bergen (Christine Baranski, de The Good Wife), alguns trolls são capturados e a princesa Poppy (Anna Kendrick, também de O Contador) sai em resgate. Para ajudá-la, a contragosto, é recrutado o infeliz Branch (ou Tronco, voz de Justin Timberlake, de Inside Llewyn Davis, 2013), troll que não participa das inúmeras festas por sua paranoia quanto a possíveis ataques. Representando seu humor, ele é o único em tons de cinza, se contrapondo a todas as cores dos demais.
Lembrando muito Os Smurfs, a lógica do universo de Trolls é bem simples: um grupo é alegre e festivo, sempre comemorando o simples fato de estarem vivos, enquanto o outro é baixo-astral e pessimista. A suposta única forma de alegrar o segundo grupo é devorando alguém do primeiro e daí vem a tensão entre eles. Tudo o que vai acontecer pode ser facilmente adiantado por qualquer adulto, e a produção tenta agradá-los com alguns atrativos, como citações interessantes a filmes (como a O Iluminado, 1980) e músicas memoráveis (como The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel). Mas não faltam canções originais chatas e grudentas (provável indicado ao Oscar), que ainda por cima serão dubladas na versão brasileira.
Por falar em dublagem, os talentos originalmente contratados são todos perdidos, já que dificilmente teremos a versão original nos cinemas brasileiros. Kendrick, Timberlake, Tambor, Baranski, James Corden, Zooey Deschanel, Christopher Mintz-Plasse, John Cleese, Russell Brand, Quvenzhané Wallis e a cantora Gwen Stefani são os nomes principais, escolhidos a dedo por características bem específicas de seus personagens. E as músicas são divididas em dois grupos: as que serão dubladas e as que serão mantidas. Se algumas já eram chatas, imagine adaptadas para o português! Isso, em meio a muitas dancinhas e receitas de auto-ajuda que fazem 90 minutos parecerem uma eternidade.
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