por Marcelo Seabra
Ler um livro de Dan Brown é como comer uma carne de terceira esturricada com um ótimo molho em cima. Parece bom, mas vai dar indigestão. E não seria diferente com as adaptações para o Cinema. A nova aventura a ganhar as telas é Inferno (2016), terceira a colocar o Professor Robert Langdon para decifrar pistas e salvar o mundo como o conhecemos. Mais do mesmo, mas ao menos alguém teve a ótima ideia de mandar o Tom Hanks cortar o cabelo.
Nas duas primeiras histórias, vimos exatamente a mesma coisa: um grupo tentando fazer algo ruim e o professor especialista em História e Arte fazendo deduções brilhantes, baseadas em sua bagagem acadêmica, para impedi-los. Ah, e Langdon sempre é incriminado ou desacreditado, e esclarecer os fatos torna-se ainda mais importante. O joguinho de quem é quem e quem é confiável permanece do início ao fim. Se o espectador é daqueles que gostam de solucionar o mistério antes da hora, a tarefa aqui se mostra inglória. Afinal, é preciso lembrar fatos, biografias e obras com riqueza de detalhes para chegar onde Langdon chega.
Se a primeira história (no Cinema, não nos livros) era toda construída em torno de um código baseado em Leonardo Da Vinci, agora é a vez do poeta Dante Alighieri, autor da Divina Comédia, estar nos holofotes. Obra-prima da literatura universal, o livro é dividido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. Dante, como protagonista de sua própria história, passa pelos três lugares e os descreve em detalhes. Dan Brown faz diversas referências ao Inferno, criando pistas que vão levar os personagens aonde eles devem ir para impedir que a Terra se torne um. Ou para fazer com que isso aconteça.
Quando reencontramos o Professor Langdon (Hanks), sete anos após Anjos e Demônios (Angels and Demons, 2009), ele está em um hospital se recuperando de um trauma na cabeça. Com a ajuda da Dra. Brooks (Felicity Jones, de A Teoria de Tudo, 2014), ele tenta se lembrar do que houve e como ele chegou ali. Isso, em meio a uma perseguição, já que parece que querem a cabeça dele. A condição de desmemoriado coloca o professor na mesma situação do espectador, que descobre os fatos à medida que ele se lembra. Assim, a trama vai se costurando e descobrimos que um carismático milionário (Ben Foster, de Warcraft, 2016), por acreditar que a Terra não comportará a população que logo atingirá, cria uma doença que vai matar gente como nunca antes. As indas e vindas da memória de Langdon são bem convenientes, já que tudo acontece quando o roteiro demanda.
Temos, claro, cidades lindíssimas servindo como pano de fundo. Florença, por ser a terra natal de Dante, é bastante explorada. Podemos acompanhar vários de seus pontos turísticos, que Langdon visita à procura das tais pistas. O diretor de fotografia Salvatore Totino, mesmo das duas aventuras anteriores, aproveita ao máximo as belas paisagens por onde o longa passa. Outro que retorna é Ron Howard, comandando a ação de forma genérica, com tudo muito explicado e linear. Isso enfatiza os buracos do roteiro do irregular David Koepp (de Anjos), que não tinha muito como fugir do livro de Brown – que inclusive é um dos produtores do filme.
Do elenco, que ainda inclui Sidse Babett Knudsen (de Westworld) e Omar Sy (de Pegando Fogo, 2015), quem parece se divertir mais é Irrfan Khan (de Jurassic World, 2015), com um personagem que é igualmente inteligente e cínico. Os demais fazem o que precisam, sem muita chance de arroubos de genialidade. Quem destoa negativamente é Ana Ularu (de Serena, 2014), que fica o tempo todo com uma expressão de psicopata bravinha, o mais estereotipado possível. Com tudo muito engessado, coube aos envolvidos apenas seguir as instruções e colocar o cachê no bolso.
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Dan pode até não o melhor dos escritores, mas seus livros são bem divertidos e escritos de uma maneira gostosa de ler, explorando temas bem interessantes e instigantes. Quanto aos filmes, se não são nenhuma obra prima, dá pra vê-los com interesse do princípio ao fim, sem bocejar! Sabe, diante de qualquer obra é melhor deixar o preconceito na gaveta de nossos armários empoeirados.
Caro Pedro, pré-conceito é algo pensado antes. Quando você já leu os livros e assistiu aos filmes, basta fundamentar as opiniões. Abraço!
Podem falar que é mais do mesmo, que é clichê, que é bobo e o escambau! Mas os livros do Dan Brown são bons à Bessa, ou beça (como preferir)! Mania de critico colocar defeito em tudo que é bom, e elogiar porcarias...
Vamos assistir!
Caro Fernando, o segredo é fundamentar. Bom ou ruim por que? Abraço!
Um preconceito é algo que não é superado com o tempo, é algo que impede uma verdadeira relação entre pessoa-pessoa, ou pessoa-objeto, agora um pré-conceito é algo inevitável, a construção dos conceitos de qualquer objeto por nossa parte acontece a todo o momento, e conforme vamos nos relacionando, durante o tempo esses conceitos sofrem transformações, quem nunca mudou de opinião sobre uma pessoa ou objeto?