Série Máquina Mortífera falha em despertar nostalgia

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Com filmes lançados em 1987, 1989, 1992 e 1998, a franquia Máquina Mortífera (Lethal Weapon) é uma daquelas pérolas cinematográficas que não só foi um sucesso de crítica, como também de audiência. Um produto típico da década de 1980, a série mostrava as desventuras da dupla de policiais Martin Riggs (Mel Gibson) e Roger Murtaugh (Danny Glover) enquanto tentavam desvendar crimes e conspirações sempre complicadas. Pode-se dizer que a série foi uma daquelas coisas que muito raramente acontecem no cinema: ela conseguiu combinar ação e comédia de uma maneira perfeita, não só graças à química entre Gibson e Glover, mas também à genialidade do diretor Richard Donner (de Superman, 1978) e da competência do roteirista Shane Black (de Homem de Ferro 3, 2013).

Some-se a esses talentos o carisma de Gibson e a capacidade de Donner e Black de criarem cenas memoráveis (quem não se lembra da cena do gato em Máquina Mortífera 3 ou Glover imitando uma galinha para distrair um criminoso enquanto Gibson o abatia no quarto longa da série?), e personagens carismáticos – além da dupla titular, não podemos nos esquecer do atrapalhado Leo Getz de Joe Pesci e da oficial de corregedoria Lorna Cole, de Rene Russo. É fácil entender porque ela cativou um sem número de fãs. Outro mérito da franquia foi o fato de saber quando sair de cena. Ao invés de aproveitar-se do sucesso e estender sua história até que ela perdesse a qualidade ou interesse, Máquina Mortífera teve quatro longas e, mesmo que boatos tenham dito que um quinto longa estaria a caminho, isso nunca aconteceu.

A solução para ressuscitar a franquia, no entanto, foi transformá-la em uma série de TV, a exemplo do que aconteceu recentemente com outra série de filmes que também obteve um relativo sucesso nas telonas, a trilogia A Hora do Rush (Rush Hour). Infelizmente, a versão televisiva de Máquina Mortífera se mostra apenas uma série policial genérica que erra justamente no que deveria acertar: despertar a nostalgia dos fãs da tetralogia cinematográfica.

Sendo justo, podemos dizer que os produtores da série televisiva – Shane Black entre eles – não fogem muito do que se viu na telona, ainda que o que tenhamos aqui é uma nova versão para aqueles acontecimentos. Quando a série começa, o policial Martin Riggs (Clayne Crawford, de séries como Justified e 24 Horas) acaba de ser transferido do Texas para Los Angeles após ter passado por um grave trauma familiar. Lá, ele é designado para ser parceiro de Roger Murtaugh (Damon Wayans, de Eu, a Patroa e as Crianças), um policial que acaba de passar por uma cirurgia cardíaca e precisa “pegar leve” se não quiser sofrer um novo infarto. Riggs mora sozinho em um trailer, Murtaugh tem uma bela casa, com esposa e três filhos, incluindo um recém-nascido; Riggs é inconseqüente, Murtaugh é prudente; Riggs confia em seus instintos, enquanto Murtaugh é mais de seguir as regras. Ou seja: nada muito diferente da essência de seus personagens na telona.

No entanto, essa essência é o que esse Máquina Mortífera guarda de semelhanças com os originais. Por mais que Clayne e Damon se esforcem, a dupla não tem a mesma química que Gibson e Glover e isso é fundamental para que uma série como essa funcione, ainda mais tendo padrões tão altos – para os fãs – para atender. Clayne não é o Martin Riggs ao qual estamos acostumados, enquanto que o Murtaugh de Wayans não é tão atrapalhado e de raciocínio lento quanto o original, talvez um reflexo dos tempos politicamente corretos atuais. Mesmo deixando as comparações de lado, a coisa não funciona. As cenas de ação são bem coreografadas e há até uma ou duas surpresas aqui e ali, mas as piadas muitas vezes parecem forçadas ou fora de hora. Além de Clayne e Wayans, completam o elenco principal Jordana Brewster (da franquia Velozes & Furiosos), no papel da psicóloga forense Maureen Cahill, e Keesha Sharp (de séries como American Crime Story e Todo Mundo Odeia o Cris), vivendo a esposa de Murtaugh, Trish.

Ainda sem um número exato de episódios divulgado, a série estreia no Brasil no dia 03 de outubro, no Warner Channel.

A dupla original é inesquecível

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • prefiro dar criticas depois que a série tiver mais temporadas... eu achei a série ótimo ,uma atualização perfeita dos filmes, e não se pode dizer nada agora até por que a série só esta começando e quero muito que continue por varias temporadas.

  • amei a série, estou aguardando as próximas temporadas com bastante episódios

  • Engraçado como fazem comentários ruins sobre a série. Ela foi muito bem trabalhada, a interação de Clayne e Wayans têm uma interação perfeita, o roteiro é excelente, as piadas são bem encaixadas e a série atende excepcionalmente os critérios do fãs. Você deveria parar de reclamar, pois ao criticar uma série boa como essa, com incontáveis qualidades e uma parte irrisória de negativo(tão irrisório que sou incapaz de citar quais são eles) passa a nítida impressão que você não entende nada e é um péssimo crítico

  • É uma série muito bacana e divertida e com ótimos atores, não sei como ainda existem pessoas que só sabem criticar talvez pq estudaram só para isso ou são pessoas fracassadas .

    • Exato, Adel: estudamos para falar mal das obras. E todos que não concordam com você são fracassados. Abraço!

  • Achei as críticas extremamente prematuras.
    A série é bem feita, ao contrário do crítico acho que a dupla de protagonistas tem uma boa química e os roteiros são bem escritos.
    Concordo que devemos dar mais tempo para avaliar melhor a serie, assim como uma das pessoas já comentou.

  • eu também achei essa série a melhor serié que ja assistir, ja tentei ver coisas erradas ou que nao gostei, mais ate agora cada episodio, me surpreende mais. eu amo, amo mesmo casa episodio, cada temporada e espero que tenham varias e varias. e ainda vou guardar essa serie pra mostrar um dia pra minha filha quando ela entender melhor as coisas, tenho certeza que ela tbm vai gostar. quanto as criticas, cara so acho que se a pessoa nao gosta de algo ela nem assisti e muito menos dar importancia fazendo criticas. entao parabens pra gostar, quem nao gosta assiti outra coisa, porq eu vou mesmo é assistir minha serie favorita, "maquina mortifera".

  • Não existe nada mais chato que discutir gosto dos outros.
    Minha avó dizia que devemos sempre respeitar a opinião alheia, mesmo que seja totalmente diferente da nossa.
    Uma coisa é certa: se tivesse ido na opinião de críticos (mas sempre respeito o direito deles) teria deixado de assistir excelentes filmes e/ou séries, bem como peças de teatro.
    Vamos curtir nossas escolhas e deixar de lado a opinião alheia ?

    Abraços a todos.

    • Caro Júlio, ao invés de convocar as pessoas a deixar de lado suas opiniões, prefiro convocá-las a trocar ideias. Em nenhum momento foi dito que a crítica publicada aqui é definitiva. E, se você procurou por críticas na internet, é porque provavelmente queria ler algo a respeito. E algo que me diz que só seria aceitável se batesse com a sua opinião. E a sua opinião, ressalto, é perfeitamente cabível.
      Abraço!

  • A série é boa, sim.
    Somente um porém: o dublador do personagem Riggs é sofrível. Parece ter uma batata na boca.

  • Acabei de assistir um episódio hoje na Globo e estou me perguntando até agora se eu estou maluco ou realmente tem gente que acha que tem há algumas características clássicas dos filmes ali, tanto é que eu só fui descobrir o que estava assistindo depois de um tempo, pois tinha lido colocado no canal, lido a descrição "Máquina Mortífera" e estava esperando começar, pois achava que tinha atrasado a programação, para você ver como a série é nostálgica.

    Depois de descobrir a série acabei pesquisando algumas análises, porém até agora estou me perguntando se as pessoas que estão comentando e achando que tem alguma coisa ali realmente assistiram aos filmes, pois quem assistiu e ainda acompanhou os mesmos em sua época só pode estar com falta de memória.

    É uma série que dá para assistir, porém é um negócio genérico que tenta, usando o nome de um filme clássico, ter um contexto inicial e atrair um público maior.

    O Riggs da série é um desastre se comparado ao original, até o filme que satirizava o original chamado Máquina Quase Mortífera capta melhor a essência do personagem, que é um maluco por natureza que dá umas surtadas, porém tem aquele bom humor e carisma, enquanto o da série é um depressivo chato que ultrapassa o limite disso e vai em outro sentido. De forma bem clara não tem nada o Riggs ali se alguém realmente assistiu aos filmes, é pesado e cansativo. O Murtaugh então nem se fala, o Damon Wayans, embora tenha feito uma série de comédia muito boa, não é um bom ator, é bem repetitivo e característico, portanto o desastre fica ainda maior quando vemos a interação e os diálogos que nem chegam perto dos originais.

    • É, Luís, é mais ou menos isso que vimos. Seguimos esperando por um possível quinto filme. Abraço!

    • Ótima análise, Luís. Não poderia explicar melhor. Os únicos 4 personagens que vieram dos filmes ficaram completamente diferentes dos filmes, e pra mim o Murtaugh de Damon Wayans é o Michael Kyle de My Wife and Kids, ele só consegue fazer um personagem pelo visto. Leo Getz então é uma ofensa a Joe Pesci. A única que se salva é a psiquiatra interpretada por Jordana Brewster, pois no filme original a personagem só servia de alívio cômico para Riggs, e aqui tem uma participação bem mais importante. Pra assistir temos que ignorar o nome que leva.

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