por Marcelo Seabra
Nessa onda de refilmagens que recentemente nos trouxe Ben-Hur (2016), chega aos cinemas a nova versão de Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven, 2016). Depois de cogitarem um sem número de figurões para o elenco, o diretor Antoine Fuqua conseguiu fechar com gente boa e este acaba sendo o principal atrativo do longa. Com Denzel Washington à frente, fica difícil errar, certo? Errado, se nos lembrarmos do risível O Protetor (The Equalizer, 2014), que conta com a mesma dupla. Mas o resultado aqui não é dos piores.
Com mais filmes ruins (como Invasão à Casa Branca, 2013) que bons (como Dia de Treinamento, 2001) no currículo, Fuqua é um nome que suscita desconfiança. Em entrevistas, afirmou que é fã de filmes de faroeste e que faria uma versão própria, apesar de respeitar os elementos básicos. Com os roteiristas Richard Wenk (de O Protetor) e Nic Pizzolatto (criador da série True Detective), ele foi beber na fonte primária, Os Sete Samurais (Shichinin no samurai, 1954). Akira Kurosawa criou a história com samurais, figura tradicional japonesa, e a versão americana de quatro anos depois a adaptou a outra realidade, com caubóis. Ambas ficaram famosas, cada uma com seus méritos, e eis que Hollywood produz outra, diferente o suficiente da de 1960.
De Tom Cruise a Jason Momoa, passando por Kevin Costner, Morgan Freeman e Matt Damon, vários nomes foram cogitados. Washington ficou estabelecido como o líder do grupo, Sam Chisolm. O personagem, um homem da lei que caça foragidos, é procurado por uma jovem viúva (Haley Bennett, também de O Protetor) e recebe uma proposta: em troca de alguma riqueza, reunir um grupo de bravos para livrar um povoado da tirania de um industrialista que só quer explorar o lugar. Chisolm começa então a catar alguns sujeitos que ele conhece bem. Na verdade, um, e os outros aparecem pelo caminho. O atirador amargurado Goodnight Robicheaux é vivido por Ethan Hawke, retomando com Washington e Fuqua a parceria de Dia de Treinamento.
O resto do grupo fica da seguinte forma: o atirador beberrão Josh Faraday (Chris Pratt, de Os Guardiões da Galáxia, 2014 – acima); o atirador de facas oriental Billy Rocks (Byung-hun Lee, do último Exterminador do Futuro); o caçador veterano Jack Horne (Vincent D’Onofrio, da série Demolidor); o criminoso mexicano Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo, de Cake, 2014); e o guerreiro índio Red Harvest (Martin Sensmeier, da série Salem). Dessa forma, temos etnias e classes diferentes, formando um elenco politicamente correto. O que seria mais admirável se o roteiro tirasse alguma vantagem disso, valorizando essas diferenças de alguma forma. Tanta variedade pode até soar estranha, visto a época e lugar em que a história se passa. E o papel de vilão maligno ficou com Peter Sarsgaard (de Aliança do Crime, 2015), um milionário que não titubeia antes de pegar uma arma e matar um sujeito a sangue frio (uma quase ponta de Matt Bomer, de Dois Caras Legais, 2016).
Logo de cara, a apresentação de Chisolm nos remete a Django Livre (Django Unchained, 2012), já que ele atua da mesma forma que nosso saudoso Dr. Schultz. Washington traz o peso esperado ao oficial, que não deixa de ser contraditório: é um homem honrado que não tem problemas em aceitar dinheiro para matar um suposto malfeitor. O dito cujo, Bartholomew Bogue, é mostrado como o estereótipo do vilão, só faltando um bigodinho com lados salientes e uma risadinha. O resto ele tem. Sarsgaard (abaixo) parece se divertir sendo mau e reforça o tom de farsa do filme. Os demais personagens são apresentados num mínimo que faz o público sentir que os conhece o suficiente para torcer por eles. Pratt, devido à fama recém adquirida, ganha mais tempo de cena para fazer piadinhas ignóbeis, nunca se decidindo entre ser um cavalheiro ou um pilantra. E o que dizer do trauma de Robicheaux? Ou da voz de Horne? Só contribuem com a estranheza do conjunto. Não faltam closes em um por um, e a câmera se sente na obrigação de descobrir o que cada um está fazendo, mostrando-os sempre em sequência.
Reaproveitando clichês do gênero, Fuqua promove uma bem vinda modernização. A escolha de um vilão capitalista, por exemplo, se pretende uma crítica que pode ser atribuída ao candidato à presidência norte-americana Donald Trump. E deixa as coisas mais civilizadas, por assim dizer, longe daqueles capangas bigodudos de sombreiros da versão de 60. Ela, no entanto, costurava melhor a reunião dos sete, que funcionava de maneira menos afobada e acidental. Mas a cidadezinha de uma rua só está lá, assim como o duelo, a igreja, as tocaias no telhado e tudo o mais. A trilha sonora, iniciada pelo falecido James Horner e finalizada por Simon Franglen (de Nocaute, 2015), só atinge a genialidade quando se funde ao marcante tema de Elmer Bernstein de 1960. No resto do tempo, chega a incomodar pela falta de discrição.
Juntando todos esses elementos a um roteiro com diálogos às vezes inexplicáveis, que são engraçados apenas para os personagens, temos um filme que fica bem na média, perigando cair. Para quem busca um bom faroeste e não viu a versão de John Sturges, fica a dica (está disponível no Netflix). Um elenco com Yul Brynner, Steve McQueen, Eli Wallach, Charles Bronson, James Coburn, Robert Vaughn e companhia continua imbatível.
O longa de 1960 segue indispensável
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Olha esa é uma boa notícia pois gosto muito de filmes de faroeste
Pelo visto é um dos bons e velhos tempos do faroeste, vou confrerir
Risível O Protetor? Sério? Um dos melhores filmes daquele estilo. Sem o clichês típicos, personagem astuto do começo ao fim e sem nenhuma enrolação com flash backs, por exemplo. A continuação cai um pouco o nível, porém também é um bom filme.
Qualquer dia eu dou uma nova chance ao filme, Fábio.
Quem fez esse artigo não sabe nada de filmes.
Ilumine-nos, Nildo!