por Marcelo Seabra
Tão absurda que parece mentira. Essa é uma boa forma de descrever a história de Cães de Guerra (War Dogs, 2016), longa que nos apresenta a dois jovens que acabam vendendo armas ao exército americano – e ficando ricos no processo. Com uma dupla de atores afinada, Jonah Hill e Miles Teller, o diretor Todd Phillips parte para um trabalho mais sério, mas que não deixa de lado situações engraçadas, uma mistura que funciona bem.
Lembrado pelo hilário Dias Incríveis (Old School, 2003) e pela trilogia Se Beber, Não Case (The Hangover, 2009, 2011, 2013), Phillips resolveu levar ao Cinema um artigo interessante de Guy Lawson para a revista Rolling Stone. Escrevendo com Stephen Chin e Jason Smilovic, ele nos apresenta a David Packouz (Teller, de Quarteto Fantástico, 2015), um jovem que não sabe bem que caminho tomar quando a namorada engravida e ele se vê um futuro pai de família. Nesse momento, ele reencontra Efraim Diveroli (Hill, de Ave, César, 2016), um amigo de infância que estava vendendo armas pela Internet. Lidando com as sobras dos grandes revendedores, eles se unem e vão crescendo nesse mercado até conseguirem atender uma grande demanda de ninguém menos que o exército norte-americano. “Cães de Guerra” era para ser um apelido pejorativo, mas eles gostam!
É fácil lembrar de filmes como O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013), também com Hill no elenco, e O Senhor das Armas (Lord of War, 2005), já que temos aqui praticamente o tom de um com o tema do outro. Cães de Guerra não chega tão longe, mas diverte. Hill, que voltou a ser gordinho, tem a chance de viver um personagem sem escrúpulos e se mostra bem à vontade, deixando para Teller a responsabilidade de ter consciência. Bem equilibrada, a dupla carrega até os momentos mais parados. E cabe a Bradley Cooper (de Se Beber…) o papel de astro convidado, ou algo assim, já que o ator parece ter sido alçado à condição de participação especial que caberia a mitos do Cinema.
Como tem sido observado em outros filmes, Cães de Guerra começa com um flashback, volta para narrar os fatos e encontra o início, continuando a partir do que já sabíamos. Notamos uma preocupação espacial que ajuda muito a entender o cenário, e o uso de intertítulos conduz a história, dando uma dica do que virá a seguir. Outro recurso bem utilizado é a trilha sonora, que conta com músicas muito apropriadas. De veteranos classudos, como Dean Martin, gente mais tradicional, como Leonard Cohen e Jim Croce, grandes nomes do rock clássico, como The Who, Creedence, Pink Floyd e Aerosmith, e punks, como Iggy Pop, a trilha segue até artistas mais modernos, como Beastie Boys, Haddaway e até 50 Cent e Pitbull. Não falta nem ópera, com uma amostra da Carmen de Bizet. O verdadeiro Packouz, inclusive, pode ser visto cantando Don’t Fear the Reaper no asilo, ainda no início da sessão.
Phillips parece fazer filmes de homens para homens, e não há mulheres com papéis relevantes. Ele foge um pouco do bromance convencional, mas continua em terreno seguro. Uma outra crítica feita ao longa, mas essa um tanto descabida, é referente a mostrar crápulas como bacanas, erro cometido em várias produções sobre ladrões, assassinos e gente dessa estirpe. Não é bem o que vemos, já que Diveroli é claramente o sujeito que engana todo mundo e não tem restrições a fazer coisas erradas. Packouz entra de cabeça nesse mundo, mas estabelece certos limites éticos, que obviamente podem e devem ser discutidos. Assim como o Jordan Belfort de Lobo de Wall Street, eles terão o que merecem.
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