Sem Fronteiras fecha a trilogia Star Trek

por Marcelo Seabra

Comemorando os 50 anos do universo Star Trek, chega aos cinemas o terceiro filme da nova franquia: Sem Fronteiras (Star Trek Beyond, 2016). Com um elenco mais seguro, bem à vontade na USS Enterprise, a franquia muda de equipe técnica e ainda assim mantém o padrão de qualidade estabelecido por J.J. Abrams e companhia. Só fica a sensação de uma certa maldição na terceira parte de trilogias, como a que acometeu o Batman. Se a primeira agrada por ser novidade e apresentar tudo e a segunda tem um vilão excepcional, o que sobra para a terceira?

Com cara de um episódio televisivo mais longo e caro, o filme acaba sendo um tanto genérico, com a equipe enfrentando o vilão da semana. Os efeitos visuais continuam ótimos, as criaturas e cenários são bastante inventivos e não falta aventura. Mas fica a sensação de que a continuação da série se dará na televisão. O roteiro original, escrito por Roberto Orci e a dupla novata Patrick McKay e John D. Payne, foi descartado por ser muito voltado ao universo de Star Trek, o estúdio julgou que só agradaria aos fãs mais ardorosos. Simon Pegg (o engenheiro Scotty) foi então convocado, com Doug Jung (da série Banshee), e eles criaram outra história, considerada mais inclusiva. Ou seja: agradando a um público mais amplo. E dividindo bem o tempo de tela entre os personagens, valorizando cada um.

A direção desta vez ficou a cargo de Justin Lin, que muda seu foco após quatro Velozes e Furiosos. Abrams e Orci seguiram apenas com crédito de produtores. Do lado de cá da câmera, eles perderam Leonard Nimoy, o Sr. Spock original, que faleceu durante a pré-produção – e a quem o filme é dedicado. Uma tragédia desfalca a próxima sequência, já que Anton Yelchin (o garoto russo, Chekov – acima) morreu num estranho acidente de carro, mas ele ainda está presente nessa – e também ganhou uma homenagem nos créditos. Ainda no campo do “extra-filme”, uma discussão começou em redes sociais devido ao fato do Sr. Sulu (John Cho) ser mostrado se reencontrando com o marido. Foi só não dar confiança que a polêmica acabou.

Depois de três anos em missão, com mais dois até finalizá-la, a equipe da Enterprise segue desbravando a galáxia, servindo de embaixadora da Federação. Esse marasmo começa a afetar a certeza do Capitão Kirk (Chris Pine), que não sente mais aquela vontade de estar na nave. Outros questionamentos afetam Spock (Zachary Quinto), que fica sabendo que sua versão paralela e idosa, o embaixador Spock, faleceu. Em meio a estas dúvidas, Kirk se depara com um pedido de ajuda e leva todos a um planeta desconhecido. Lá, toma conhecimento de um guerreiro que tem um ressentimento com a Federação, um tal Krall (Idris Elba, da série Luther). Sob ataque, eles têm ajuda da sobrevivente Jaylah (Sofia Boutella, de Kingsman, 2014 – abaixo).

Uma questão que vem logo à cabeça se refere à Federação. O que exatamente é o papel dela? Depois de tanto tempo, ele continua igual? E quem a financia? E não há um braço militarizado para responder a chamados de socorro? Por que mandariam a Enterprise? Se ela é a única nave capaz de guerrear, eles já não deveriam ter pensado nisso e a enchido de armas e soldados? Se você tem um James Bond à disposição, não precisa mandar o M para a guerra.

O vilão não parece bem encaixado. Na esperança de salvá-lo com um bom intérprete, convocaram Idris Elba, de fato uma presença forte. Mas não muito debaixo de tanta maquiagem, falando pouco. Qual é o propósito de Krall? Por que ele esperou tanto tempo? Falas espaçadas tentam explicá-lo, mas em momento algum sentimos firmeza. Entrar mais em detalhes estragaria alguma surpresa. O fato é que Krall é mal explicado, dá uma cara de genérica para a trama. E piadas fora de hora de outros não ajudam em nada. O humor de Scotty funciona muito melhor, por exemplo, que o de Bones (Karl Urban).

Independente das falhas levantadas, é preciso ressaltar que Star Trek: Sem Fronteiras é um bom filme. A tripulação da Enterprise apenas já foi mais longe. Fica a sensação de que o sucesso da trama se deve ao interesse que o vilão consegue atrair – vide o longa anterior, com seu John Harrison, vivido por Benedict Cumberbatch. A próxima aventura já é certa e a Paramount anunciou Payne e McKay como os roteiristas. Reaproveitar um vilão clássico, da série de TV, poderia ser uma boa, agradando a fãs e aos não iniciados.

Krall não é um vilão particularmente interessante

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Ótima resenha! Adorei este filme. Quero ver o novo trabalho do Cumberbatch, sempre tão versátil em seus papéis. Estou aguardando o novo filme sobre o Brexit que parece que tem um viés bem diferente. Desde que vi o elenco do filme, já imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de grandes atores. Estou aguardando a estreia porque adoro filmes políticos . É um tema interessante e que aborda e afeta a vida de todos. Ele conta os bastidores de como o guru do Brexit criou essa ideia até chegar ao plebiscito.

  • Eu adorei sua resenha crítica. Sou apaixonada por Star Trek. E adorei o Cumberbatch neste filme. Um dos meus filmes favoritos dele. Ele é extremamente talentoso!Ele atua tão bem. Fiquei com vontade de assisir, Brexit, o novo filme dele que vai ser lançado mês que vem. Gostei muito do trailer que vi. Achei muito inusitado utilizarem um assunto tão atual para fazerem uma produção. Creio que o filme brexit deva ser bem revelador e intrigante devido sua história, parece não ser mais um filme enfadonho de política, mas que pelo contrário, tem um ritmo legal e bem conduzido, sem ser tão previsível quanto os demais da categoria. Adoro filmes que são baseados em fatos reais! Sempre surpreendem. Como ele manda bem, tem tudo para ser um filmaço!

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