por Marcelo Seabra
Um faturamento internacional expressivo – aproximadamente oito vezes o orçamento – e várias indicações e prêmios comprovam que Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011) foi sucesso tanto entre público quanto crítica. Talvez, isso tenha sido uma motivação para Woody Allen novamente voltar no tempo, agora na Hollywood dos anos 30. Mantendo seu ritmo invejável de um lançamento por ano, aos 80 de vida, o diretor e roteirista lança Café Society (2016).
Allen narra a história de Bob, repetindo a escalação de Jesse Eisenberg (de Para Roma, Com Amor, 2012) como seu alter-ego. O jovem novaiorquino chega a Los Angeles e vai pedir emprego ao tio, um produtor importante (Steve Carell, que trabalhou com Allen em Melinda e Melinda, 2004). No escritório, Bob conhece Vonnie (Kristen Stewart, que repete com Eisenberg a parceria de American Ultra, de 2015), a garota que logo formará um triângulo amoroso com tio e sobrinho. Com perfis bem diferentes, os dois disputarão o coração da moça em meio a diálogos ágeis e uma infinidade de outros personagens que ajudam a compor o quadro.
Com uma história que se arrasta e um tanto de gente indo e voltando, o filme dá a impressão de que Allen não sabe aonde quer chegar. As coisas vão acontecendo sem que saibamos exatamente como aquele momento se encaixa no todo, fazendo com que o filme pareça muito mais longo que seus 96 minutos de fato são. O humor característico do diretor está lá, claro, e às vezes rimos de nervoso. Entre os personagens, há um mafioso (Corey Stoll, o Hemingway de Meia-Noite) que é aparentemente bonzinho, já que o conhecemos no seio familiar. Mas logo fica clara a sua natureza, o que gera alguns desses sentimentos dúbios.
Um ponto forte de Café Society é o seu elenco. Com vários nomes facilmente reconhecíveis, ele permite a alguns deles chances ótimas de se destacarem. Jesse Eisenberg não se afasta de seu tipo de sempre, mas se encaixa bem. Bob começa um meninão desajeitado e vamos acompanhando seu desenvolvimento. Ele consegue mostrar evolução, mesmo guardando traços do início. O brilho maior é garantido por Kristen Stewart. Apesar de muitos ainda a apontarem como a mocinha de Crepúsculo, ela desponta como um grande talento, o que já vem provando em outras produções. Vonnie é, de todos, quem mais tem mudanças, e a atriz é segura em todos os momentos. E o figurino e penteado da década de 30 fazem muito bem a ela, que está mais bonita do que o usual.
Devido ao mundo em que a trama se passa, várias celebridades são mencionadas, mas Allen opta por ficar apenas nos ficcionais. E a reconstituição é fantástica, de cenários a pequenos acessórios. A fotografia ficou a cargo de ninguém menos que o italiano vencedor de três Oscars Vittorio Storaro (Apocalypse Now, 1979, Reds, 1981 e O Último Imperador, 1987), que já assinou para trabalhar com o diretor novamente. E não poderia faltar uma trilha sonora apropriada, com a cara da época, inclusive nas músicas apresentadas na boate. Somando esses elementos, comprovamos a tese que um Woody Allen fraco ainda é melhor que muito do que estiver em cartaz. Mas continuamos na espera de um bom Woody Allen.
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