Jason Bourne está de volta!

por Marcelo Seabra

Em 2002, Matt Damon viveu o espião de Robert Ludlum pela primeira vez. Agora, em 2016, ele volta à pele do personagem pela quarta vez. E não tem mais aquele negócio de “Qualquer Coisa Bourne”, o título ficou um singelo Jason Bourne (2016). Mesmo envelhecido, Damon dá conta do recado e é até interessante vermos que o tempo passou para todo mundo. Mesmo que a desculpa para a ausência dele em O Legado Bourne (The Bourne Legacy, 2012) tenha sido engenhosa, nada como ver o ator de volta ao personagem. É mais do mesmo, e isso é bom.

O filme começa com Bourne afirmando que se lembra de tudo, mas logo descobrimos que não é bem assim. Muita coisa ele ainda não se lembra, outras tantas ele nunca soube. Por isso, ele continua na luta para fechar o quebra-cabeça que é a sua vida e a CIA não dá paz, ficando sempre na cola dele. Ocupando a vaga de figurão veterano no time de burocratas, temos Tommy Lee Jones (de Mente Criminosa, 2016 – abaixo), que consegue ser ameaçador mal abrindo a boca. É impressionante como ele domina a cena aparentemente sem fazer muito esforço. Ainda do lado da CIA, Alicia Vikander (de A Garota Dinamarquesa, 2015) vive a chefe do departamento de tecnologia que encabeça a missão Bourne. Como sempre, precisamos também de um assassino interessante para se contrapor ao protagonista, e a tarefa cabe a Vincent Cassel (de Meu Rei, 2015), que se mostra incansável e no mesmo nível do colega.

Assim como nos longas anteriores, várias cidades pelo mundo são contempladas pela história, e a facilidade com que todos viajam e aparecem nos lugares é espantosa. Todas as ações parecem sincronizadas, a trama depende de tudo correr como um relógio suíço para não desandar. A CIA e as polícias locais parecem muito competentes em certos aspectos e uma bagunça em outros. O volume de ação aumentou, com cenas extensas e mais exageradas, com direito a perseguições de carro, gente quase voando e muitas mortes. A câmera nervosa de Paul Greengrass continua afiada, com uma montagem ágil que nos permite entender o que está havendo ao mesmo tempo em que corre entre os eventos e costura tudo. O diretor contou com o editor do longa, Christopher Rouse, no roteiro, e ninguém melhor que os dois para amarrarem tudo. Ambos trabalham com o personagem pela terceira vez e estão bem à vontade nesse universo.

Damon havia dado entrevistas dizendo que só voltaria ao personagem se fosse com Greengrass atrás da câmera. A reunião deles e de outros que também voltam, como Julia Stiles, é muito feliz, e as adições dão gás. Jones, Vikander e Cassel são todos ótimos, fica difícil errar com um time desses. Quem ficou insatisfeito com o Aaron Cross de O Legado Bourne mal pode acreditar que este novo Jason Bourne virou realidade. E não poderia faltar a música-tema de Moby, mesmo que numa versão modernosa. Sem Extreme Ways a experiência não estaria completa.

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Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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