por Marcelo Seabra
Dois blockbusters atualmente em cartaz têm características parecidas, e resultados também. Ambos vêm de universos pré-existentes, retomam personagens que já conhecemos e, por isso mesmo, foram recebidos com desconfiança. Nenhum dos dois inova ou acrescenta, mas revisitam e recontam de uma forma nova, fazendo as honras para as novas gerações. Enquanto A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan, 2016) entra na onda das “histórias nunca contadas”, inserindo elementos novos nos fatos amplamente conhecidos, Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 2016) refaz o primeiro filme com novo elenco e efeitos especiais de ponta.
A Lenda de Tarzan
Na nova pele de Tarzan, o sueco Alexander Skarsgård não demonstra o mesmo sex appeal que o visto no vampiro de True Blood. Introvertido, sem graça, ele só se solta um pouco quando volta para a selva, que parece ser seu habitat natural. Mesmo bem adaptado à cidade, vivendo como John Clayton III, o nobre Lorde Greystoke, ele está sempre deslocado, sendo tratado como diferente. De fato, o andar, que acompanha os macacos, moldou seus punhos de forma a aguentar seu peso, o que chama a atenção até de crianças. O apelido Tarzan, que rechaça, só é usado por quem quer fazer pouco dele, e Clayton segue sua vidinha pacata sonhando com o dia em que voltaria a ver seus velhos amigos.
Como a esposa de Clayton, Margot Robbie (a aguardada Arlequina de Esquadrão Suicida) não pode fazer muita coisa. Jane se recusa a ser a mocinha em perigo, como ela afirma, mas é exatamente o que o roteiro lhe confere. Uma jogada esperta de Craig Brewer (de Footloose, 2011) e Adam Cozard (de Operação Sombra – Jack Ryan, 2014) ao lidarem com a mitologia de Edgar Rice Burroughs foi colocar um vilão real: Léon Rom foi mesmo um soldado belga que cresceu na hierarquia militar até chegar a administrador do Congo – e teria servido como inspiração para o Coronel Kurtz do romance O Coração das Trevas (e Apocalypse Now, claro). O problema é ter Christoph Waltz mais uma vez sendo o vilão caricato e esperto, como em Spectre (2015) e vários outros. Outro personagem histórico aproveitado é George Washington Williams, uma mistura de diplomata e soldado que acompanha o casal pelo Congo. O americano é vivido com graça e força por Samuel L. Jackson (de Os Oito Odiados, 2015) e responde por alguns momentos mais leves.
Apesar dos problemas apontados, relacionados aos personagens, há qualidades que salvam A Lenda de Tarzan de um resultado mais medíocre. Se os cenários soam um tanto falsos, os animais são reais até demais. As sequências nas selvas do Congo empolgam, trazendo de volta aquele clima de aventura típico de filmes da Sessão da Tarde – o que deve agradar a muitos veteranos. Skarsgård tem cara e físico de Tarzan e merece uma segunda chance na tarefa. Talvez um diretor menos genérico, caso de David Yates (da franquia Harry Potter), resolva o problema.
Caça-Fantasmas
Com quatro mulheres nos papéis principais, Caça-Fantasmas carecia de um artigo feminino no título. Esse detalhe seria interessante para mostrar que isso é basicamente o que mudou do original para esse. Em 1984, Ivan Reitman lançou uma produção que faz parte da vida de muita gente e deu início a uma franquia que acabou indo para a TV. Essa nostalgia e o sentimento de “vão mexer nas minhas memórias” podem ter feito muita gente fazer cara feia para esse novo episódio. Ou é só machismo mesmo. O que importa é que o longa fica na mesma média do anterior: diverte sem ter praticamente graça nenhuma.
Temos duas cientistas que tomaram caminhos diferentes e perderam contato. Enquanto Erin Gilbert (Kristen Wiig, de Perdido em Marte, 2015) é uma professora em busca de uma vaga efetiva numa respeitada instituição de ensino superior, Abby Yates (Melissa McCarthy, de Um Santo Vizinho, 2014) seguiu em suas investigações paranormais numa academia de qualidade um pouco duvidosa. Yates é ajudada por uma engenhosa inventora, Jillian Holtzmann (Kate McKinnon, do tradicional Saturday Night Live), e elas ganham a adesão de Gilbert no grupo ao se depararem com um fenômeno indiscutível: o fantasma de uma antiga moradora de uma casa assombrada.
Como uma das aparições acontece nos trilhos do metrô de Nova York, o trio logo vira um quarteto com a chegada de Patty Tolan (Leslie Jones, também do SNL), funcionária da companhia viária que conhece bem os caminhos da cidade. Após conseguirem um quartel general, elas contratam um secretário e se preparam para começarem a atender possíveis clientes. Parêntese: o secretário é ninguém menos que Chris “Thor” Hemsworth (acima), que na falta de qualquer sinal de inteligência, se resume a ser bonito. Kevin conta com suas qualidades físicas talvez por não ter nenhuma outra. Num filme em que as mulheres tomam o lugar privilegiado dos homens, nada mais natural que objetivar um sujeito, como acontece ao contrário há tantos anos. Tantos.
Com um diretor – Paul Feig – e uma co-roteirista – Katie Dipold – responsáveis por As Bem-Armadas (The Heat, 2013), lembrando que Feig também assina o traumatizante Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011), era de se esperar algo difícil. As boas notícias trazem algum conforto. McCarthy, normalmente abominável, está mais apagada, deixando os holofotes para Jones e McKinnon, que têm uma boa química, talvez devido à parceria no SNL. As piadas, se não fazem rir, ao menos não afrontam. E o vilão, um desconhecido para o grande público, é um dos roteiristas do SNL e de diversos outros programas cômicos, Neil Casey, e funciona muito bem. Nem precisava de tantas participações especiais, inseridas sob medida para agradar os fãs mais velhos.
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