por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Após a boa repercussão de Lucifer, eis que mais uma adaptação da Vertigo, selo da DC Comics com quadrinhos voltados ao público adulto, chega à TV. Preacher é uma adaptação da elogiada obra de Garth Ennis (roteiro) e Steve Dillon (desenhos) que estreou no fim de maio na rede americana de TV a cabo AMC e, a exemplo de sua antecessora, é uma “série levemente baseada nos conceitos apresentados no original”. Após ter cinco dos dez episódios previstos para a primeira temporada transmitidos, podemos dizer que Preacher é uma série que ainda não se justificou e que, a exemplo de Lucifer, deve desagradar os mais puristas, por apresentar poucas semelhanças com seu material de origem.
Produzida por Seth Rogen (ator conhecido por comédias questionáveis como A Entrevista, 2014), Evan Goldberg (também de A Entrevista) e Sam Catlin (de Breaking Bad), a série conta a história de Jesse Custer (Dominic Cooper, o jovem Howard Stark do Universo Marvel), um pastor em uma pequena cidade texana que está no meio de uma crise de fé. Mesmo sabendo que sua cidade precisa dele, Jesse não quer mais seguir a promessa feita a seu pai de seguir seu trabalho de evangelização. Enquanto se vê nessa situação, ele recebe a visita de Tulipa (Ruth Negga, de Warcraft, 2016), uma assassina mercenária que tem uma história com o pastor e quer que ele a ajude em um último trabalho. Completa o trio o irlandês Cassidy (Joseph Gilgun, de O Último Caçador de Bruxas, 2015), um vampiro que está em constante fuga de uma organização misteriosa. A situação toda se complica quando Jesse passa a ter seu corpo coabitado por um ente misterioso que lhe concede um grande poder de influência sobre os outros.
Quando surgiu, em 1995, nos Estados Unidos, Preacher chamou a atenção por uma série de fatores. Além da premissa bastante polêmica em uma sociedade dominada pelo puritanismo cristão, o gibi apresenta uma diversidade de personagens bizarros e situações surreais, além de um senso de humor negro, diálogos ácidos e uma saudável dose de violência. Apesar de Rogen se dizer um fanático pela série e Garth Ennis ser um de seus consultores, até o momento muito do que fez Preacher obter seu status “cult” foi deixado de lado na adaptação do AMC. A violência se faz presente, assim como os personagens bizarros, mas de resto, pouca coisa sobrou. Dentre o trio de protagonistas, apenas o Cassidy de Gilgun reflete o personagem dos quadrinhos e o ator entrega uma performance muito boa. Já Jesse e Tulipa – que teve sua etnia alterada de caucasiana para afro-americana na adaptação – estão bem longe do que se esperava deles. Algumas escolhas de direção, como letreiros que remetem a filmes de faroeste dos anos 1960 também podem ser questionáveis, mas isso já pode ser mais uma implicância do que um demérito para a série.
Preacher cai naquela categoria de série que é feita para agradar um tipo de público, mas não deve agradar muita gente. Aqueles fãs dos quadrinhos de Ennis & Dillon que há anos esperavam ver todo o humor politicamente incorreto na série da TV se decepcionarão, enquanto que o público que se interessa por séries violentas e bizarras deve se sentir meio perdido devido a algumas escolhas de roteiro que introduzem personagens do nada e não voltam a eles, ainda que possa curtir toda a violência apresentada.
A exemplo da malfadada Constantine (outra série da Vertigo adaptada para TV que, ao contrário de Lucifer, foi cancelada após a primeira temporada), Preacher é uma série que, apesar de ter metade da primeira temporada transmitida, deve depender de mais tempo para cair no gosto do público e bem mais de empenho de todos os envolvidos para criar algo que não seja um tanto genérico. O AMC parece confiante, já que autorizou a produção da segunda temporada.
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