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Mais destruição em outro dia da independência

por Marcelo Seabra

Depois de vinte anos, os alienígenas voltaram à Terra para terminar o que começaram em Independence Day (1996). E para satisfazer a necessidade que o diretor Roland Emmerich tem de destruição em larga escala. Em Independence Day: O Ressurgimento (ID: Resurgence, 2016), os países aprenderam a trabalhar unidos e o planeta parece totalmente reconstruído, empregando inclusive tecnologia de fora. Nada melhor para unir povos que uma hecatombe. Mas existe aquele risco de um novo ataque, já que o primeiro rendeu muito dinheiro nas bilheterias. Era questão de tempo até que o elenco original fosse reunido. Só não podíamos prever que o roteiro seria tão besta e os diálogos, tão horrorosos.

Uns dizem que Will Smith pediu muita grana; ele próprio alegou conflito de agenda, já que as filmagens iriam coincidir com as de Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016). Tirando a ausência dele e do falecido Robert Loggia, que foi inserido digitalmente como uma homenagem, os demais estão lá. Jeff Goldblum é o agora Diretor David Levinson, envolvido em tudo que diz respeito aos aliens devido ao seu conhecimento dos eventos anteriores. O ex-presidente e eterno líder do mundo livre Thomas Whitmore continua na pele do sumido Bill Pullman e tem papel importante na nova resistência. O pai de Levinson, Julius (Judd Hirsch), também volta, para tristeza do público, elevando o ridículo a um outro patamar. Até o tresloucado Dr. Okun (Brent Spiner) aparece, quando todos achavam que ele tivesse morrido.

Como a moda é colocar no meio alguém com apelo jovem, para atrair vários públicos, temos um Hemsworth recrutado. Liam (dos Jogos Vorazes – acima) mostra mais uma vez o tanto que lhe falta em carisma, sendo apenas um rostinho bonito numa tentativa de agradar as garotas da plateia, como se elas também não estivessem mais interessadas no espetáculo de pirotecnia. Outro colírio oferecido é Jessie T. Usher (de Quando o Jogo Está Alto, 2014), cujas tarefas são orgulhar o pai morto (o Capitão Hiller de Smith) e justificar a presença de Vivica A. Fox, que repete o papel da mãe. Seguindo essa lógica torta de estúdio, para o público masculino temos Maika Monroe (de Corrente do Mal, 2014), colocada oficialmente na função de coitadinha ao ter o noivo e o pai em perigo. A outra mulher “forte” do elenco é Sela Ward (de Garota Exemplar, 2014), a atual presidente, praticamente uma ponta. Completa o grupo principal o competente William Fichtner, que anda se envolvendo em bombas do tamanho de As Tartarugas Ninja (2014).

Sem Will Smith, as tentativas de humor caem principalmente nas mãos de Hirsch, completamente deslocado, e de um sujeitinho que parece ser um contador que acaba no meio da guerra e mostra ter “alma de guerreiro”, frase dita por outro personagem improvável em meio a um festival de diálogos babacas, falsos e motivacionais. Ocasionalmente, Hemsworth tenta ser engraçadinho e só consegue deixar o público ainda mais enfarado. Clichês como um grupo desavisado ir parar no meio do campo de batalha e o cachorrinho que foge e alguém tem que voltar para buscá-lo não faltam. O humor é tão fora de lugar que torna as cenas mais dramáticas ou tensas simplesmente apáticas, ao invés de apenas proporcionar uma quebra saudável.

Dean Devlin, parceiro de Emmerich no roteiro original, volta à função ao lado de nada menos que três outros roteiristas. Um filme escrito a dez mãos só poderia ser um tanto bagunçado. A trama, previsível, nos apresenta ao possível fim do mundo, já que a tal raça volta sedenta de sangue e os humanos não veem saída. Mas sua força de viver vai prevalecer e eles vão achar uma saída. Ou algo assim. O governo americano, claro, toma a frente e é formada uma equipe de pilotos que vão promover o contra-ataque. No meio do time não poderiam faltar o novinho, a garota chinesa e o cara negro, numa tentativa politicamente correta de ter vários estereótipos e agradar a vários públicos. Com todos esses lugares comuns, uma trilha cansativa e óbvia e uma fotografia que não acrescenta nada, essa sequência sem dúvida é bem mais fraca que o anterior. E podemos esperar pelos próximos episódios.

Reunidos para a sequência – e para uma selfie

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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