Warcraft é o mais recente game a ganhar as telas

por Marcelo Seabra

Tanto quanto um livro longo e rico, é tarefa das mais complicadas adaptar para o Cinema um videogame de grandes proporções como é o caso de Warcraft. Com o subtítulo O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016), o longa chegou dividindo opiniões. Visualmente empolgante, como outras obras de fantasia da atualidade, ele é prejudicado por uma trama um pouco confusa e um número enorme de personagens que acabam se confundindo. O resultado é bem superior a outras adaptações de jogos, um subgênero ainda marcado pelo fracasso, mas ainda está longe do desejado.

Em um mundo perto da exaustão de recursos, tribos de orcs se mobilizam para transferirem suas famílias através de um portal mágico. Paralelamente, temos humanos vivendo em paz naquele que seria o mundo ideal para os Orcs. Ou seja: guerra à vista. Essa é a premissa de um jogo lançado em 1994 que já teve várias expansões e inovações. Seus personagens são divididos em raças, classes e profissões, cada um com tarefas e características bem definidas, como poderes mágicos e divindades. Cabe ao jogador escolher se estará com a Aliança ou com a Horda e uma série de outras definições.

Todo este rico universo foi construído sugando referências de diversas fontes. Não é difícil ver elementos de O Senhor dos Anéis, por exemplo, e sobra até para Game of Thrones. Claro que adaptações deveriam ser feitas para o material funcionar no Cinema, o que deve desagradar os fãs mais extremistas. Mesmo simplificando, há diversos nomes citados aqui e ali, muita gente parecida que não se sabe mais se é um ou outro. E alguns rumos que a história segue não ficam claros. Escrito pelo diretor Duncan Jones e por Charles Leavitt (de No Coração do Mar, 2015), o roteiro se perde na extensão dos fatos narrados e, do início, já sabemos que as pontas soltas não serão todas amarradas. Afinal, aqui se tenta estabelecer uma franquia. Histórias e potencial não faltam.

Tragédias e heroísmos pontuam a trama, reforçando a iconografia de alguns personagens, olimpianos dos humanos e dos orcs. Seus intérpretes, em sua maioria, são inexpressivos, formando um elenco bem homogêneo, nivelado por baixo. Ben Foster (de O Grande Herói, 2013), Travis Fimmel (da série Vikings), Paula Patton (de Dose Dupla, 2013) e Dominic Cooper (de Drácula: A História Nunca Contada, 2014) são os nomes principais, eclipsados por Toby Kebbell, que repete o belo trabalho de interpretação e captura de movimentos mostrado em Planeta dos Macacos: O Confronto (2014).

Jones, lembrado pelos ótimos Lunar (Moon, 2009) e Contra o Tempo (Source Code, 2011), assumiu um projeto maior, com orçamento de 160 milhões. Diretores competentes já se perderam com dinheiro demais, e nem é o caso aqui: Jones imprime sua marca no longa, que passa longe do fracasso de outras adaptações de games. Mas o fato da lógica daquele universo ser apresentada aos poucos, à medida do necessário, traz uma sensação de oportunismo que enfraquece a trama. As coisas acontecem na hora em que precisam acontecer, da forma como deve ser. Talvez, em uma sequência, com verdades já estabelecidas, o resultado seja melhor.

Fimmel é um herói bem insosso

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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