por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Antes de começar a falar de X-Men: Apocalipse (2016) em si, é bom termos em mente o seguinte: por mais que os executivos da Fox e o próprio diretor/produtor Bryan Singer digam que sim, a trilogia iniciada em 2011 com X-Men: Primeira Classe, continuada com X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) e encerrada com esse X-Men: Apocalipse não se trata de uma prequel, já que há imensas disparidades cronológicas e mesmo problemas de continuidade que tornam a ligação entre ela e os três primeiros filmes dos mutantes (X-Men, X-Men 2 e X-Men: O Confronto Final) impossível. Também não se trata necessariamente de um reboot, já que as trilogias divergem bastante entre si. Poderíamos dizer, então, que a nova trilogia de X-Men é simplesmente um derivado da primeira, novas histórias contadas em um mesmo universo, com personagens compartilhados, mas não na mesma continuidade ou linha temporal. É necessário ter isso em mente para desconsiderar diversos aspectos presentes aqui que, como dito acima, contrastam violentamente com o que se viu na primeira trilogia dos mutantes que, em tese, seria a sequência dessas três primeiras aventuras.
X-Men: Apocalipse se inicia 3.600 anos antes da Era Comum (ou Antes de Cristo, como queira), num Egito dominado por En Sabah Nur (Oscar Isaac, de Guerra Nas Estrelas: O Despertar da Força, 2015), o primeiro mutante, considerado por muitos como um deus. En Sabah Nur tem a capacidade de, quando em idade avançada, trocar de corpos, geralmente mutantes, dos quais incorpora os poderes, de forma que é quase um imortal. Quando o filme começa, ele está prestes a transportar sua essência para um mutante com poderes regenerativos, o que o tornaria ainda mais longevo. Nem todos os egípcios, no entanto, louvam o mutante e, em um ato desesperado, alguns rebeldes interrompem a cerimônia, literalmente derrubando uma pirâmide em cima dele. Graças a seus aliados – todos mutantes – no entanto, o ritual é completo, mas En Sabah Nur acaba ficando preso sob milhares de toneladas de escombros, ileso, mas em uma espécie de animação suspensa.
Avançamos no tempo e estamos em 1983. Há dez anos, os mutantes foram revelados ao mundo e, apesar de conviverem de maneira mais ou menos pacífica com a humanidade, nem todos estão satisfeitos com seus papéis. Mística (Jennifer Lawrence), um ícone mutante, é agora uma mercenária que resgata mutantes de situações difíceis e os ajuda a se recolocar no mundo. É numa dessas missões que somos apresentados a Anjo (Ben Hardy), Noturno (Kodi Smit-Mcphe, de Planeta dos Macacos: O Confronto, 2014) e Psylocke (Olivia Munn, de Mortdecai: A Arte da Trapaça, 2015), personagens que desempenharão papéis importantes no filme. Pouco depois, acompanhamos a agente da CIA Moira MacTaggert (Rose Byrne), em uma missão no Egito. Moira está atrás de um culto que reverencia En Sabah Nur e acaba inadvertidamente presenciando o ressurgimento do mutante que, não demora muito, se vê no caminho de Ororo Munroe (Alexandra Shipp, de Straight Outta Compton, 2014), que se tornaria sua primeira aliada.
Paralelamente, também sabemos do destino de Magneto (Michael Fassbender), agora um operário na Polônia, casado, pai e tentando esquecer seu passado, e de Charles Xavier (James McAvoy), que reassumiu seu papel de professor na Escola Xavier para Superdotados, contando com a ajuda do sempre fiel Hank McCoy (Nicholas Hoult). A escola está cheia de adolescentes mutantes, dentre os quais se destacam Jean Grey (Sophie Turner, a Sansa de Game of Thrones) e o recém-chegado Scott Summers (Tye Sheridan, de Lugares Escuros, 2015). Não demorará muito para que os caminhos de todos esses personagens se cruzem, com alguns embarcando na jornada de conquista de En Sabah Nur e outros preferindo combatê-lo.
X-Men: Apocalipse não foge à regra dos demais filmes de heróis aos quais estamos acostumados. É um filme de ação que, dessa vez, não segue a tradição dos X-Men de comparar os mutantes às minorias oprimidas, ainda que haja resquícios disso aqui e ali. É notável a forma como Simon Kinberg e Bryan Singer decidiram se livrar das amarras da continuidade compartilhada com sua primeira trilogia para criar uma história que, sim, depende bastante dos filmes anteriores, mas não se preocupa em ligar-se com os cronologicamente posteriores. Mesmo aqueles que não assistiram a Primeira Classe ou Dias de um Futuro Esquecido conseguem acompanhar a história aqui contada sem ficar perdido. O que não deixa de ser um ponto positivo.
Com relação aos personagens e aos atores em si, se, por um lado, pode-se reclamar do fato da Psylocke de Munn ter sido pouco aproveitada, por outro, Singer e Isaac acertaram em cheio na caracterização do vilão. Apesar do visual pouco satisfatório, Apocalipse é um ser megalomaníaco, exagerado e propenso a discursos, ou seja, um típico vilão de histórias em quadrinhos com planos de conquista mundial. Isaac conseguiu transmitir exatamente isso em sua performance que, muitas vezes, flerta com o exagero, algo que combina bem com o personagem. Já McAvoy, Fassbender, Lawrence, Byrne e Hoult reprisam seus papéis de maneira competente. Outro que merece destaque é Evan Peters, reprisando seu papel de Mercúrio (ainda que não use esse nome durante a película) de maneira bastante divertida. É impressionante como Bryan Singer soube explorar o uso dos poderes do personagem – a supervelocidade – de uma forma original que sempre torna as aparições do jovem velocista algo esperado e um dos destaques da nova trilogia (produtores da série The Flash: aprendam).
X-Men: Apocalipse é um típico produto de Singer e Kinberg. É recheado de ação, com efeitos especiais e CGI bem feitos e, por incrível que pareça, um 3D que funciona. Como todos os filmes dos X-Men até aqui, tem seus furos de roteiro e algumas situações clichê e soluções preguiçosas. No entanto, aqui – como em toda a trilogia – os acertos superam os erros e X-Men: Apocalipse fecha essa segunda trilogia dos mutantes da Fox com dignidade. E, também, como em todo filme de super-herói da atualidade, especialmente aqueles com heróis Marvel, aguarde uma participação de Stan Lee e uma cena pós-créditos, que é um fan service que, esperamos, não seja gratuita.
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