por Marcelo Seabra – texto escrito em 2004
Os escândalos dentro da mídia começaram bem antes do caso Jayson Blair, do jornal The New York Times. Estreou nos Estados Unidos no dia 14 de novembro o filme Shattered Glass (algo como “Vidro Estilhaçado”, mas também um trocadilho com o nome do protagonista, referindo-se à sua desgraça). O longa retrata um episódio real revelado em 1998: o jornalista Stephen Glass, que trabalhava para a respeitada revista The New Republic e colaborava ocasionalmente com várias outras, como a Rolling Stone, ficou popular pela qualidade de seus artigos, sendo disputados por diversos veículos da mídia. Até o dia em que seu segredo foi descoberto: o próprio Glass inventava boa parte de seus textos. O elenco é encabeçado por Hayden Christensen, que vive o protagonista. O ator é mais lembrado por interpretar Anakin Skywalker, ou Darth Vader, dos novos episódios da série Star Wars.
O personagem real retratado em Shattered Glass, Stephen Glass, conversou com a agência Associated Press e comentou o que achou do filme, além de revelar o que o teria levado a escrever matérias falsas e como está sua vida hoje. Segundo Glass, esse é o seu filme de terror pessoal. Apesar de elogiar as atuações, ele lembra que era difícil acompanhar certas partes, chegando a olhar para o chão: “Foi muito doloroso e difícil de assistir. Era um passeio pela pior parte da minha vida, que eu mais me sinto envergonhado. E pela qual me arrependo. Apesar disso, é um bom filme”, julga.
Ele não teve nenhuma ligação com a equipe da produção. O diretor e roteirista, Billy Ray (que escreveu A Guerra de Hart), acha que manter contato poderia deixá-lo confuso, atrapalhar seu dicernimento. Ele afirma que decidiu comandar o projeto para honrar a profissão dos responsáveis pela queda do ex-presidente americano Richard Nixon, Bob Woodward e Carl Bernstein, então jornalistas do Washington Post. E seu filme está sendo comparado exatamente a Todos os Homens do Presidente, que retrata a investigação da dupla: “Os dois melhores sobre o jornalismo americano”, classifica a Associação Científica Cristã.
Glass aponta como falha no roteiro o fato de não se explicar o que o levou a forjar as notícias. Hoje, com acompanhamento psiquiátrico, ele reconhece: “Eu me detestava. Não me achava bom como jornalista, como filho, como irmão, como amigo, como namorado. Acho que enganei as pessoas para elas pensarem boas coisas de mim”, revela. “Queria histórias que não aconteciam com freqüência, sobre fatos grandiosos. Então, eu inventava tudo. E para cada mentira, era necessário outra para sustentá-la. Assim, era uma sobre a outra”, completa.
Para voltar a viver sua vida, ele, hoje com 31 anos, tem escrito cartas de desculpas a quem enganou. Tem muito apoio da família, de amigos, da namorada, dos quatro gatos, do cachorro… Graduado em Direito, ele trabalha em seu segundo livro. Shattered Glass, ainda sem previsão de estréia no Brasil, deve receber o título O Preço de uma Verdade. É provável que nem chegue aos cinemas, tamanha a demora na distribuição.
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