por Marcelo Seabra
Depois de vinte anos de casados, Ana e Fábio decidem se separar. Nada traumático, como traição, apenas um desgaste tido como natural, e eles pretendem continuar amigos. Até pelo bem da filha, com quem ambos são bem apegados. Numa dessas decisões aparentemente fadadas ao fracasso, eles alugam apartamentos muito próximos, um de frente pro outro. E, obviamente, passam a controlar os passos um do outro.
Novo trabalho do diretor Luiz Villaça (da série Vizinhos), De Onde Eu Te Vejo (2016) é algo como um “pós-romance”, protagonizada por um casal maduro que já se encontra separado, apesar do amor que ainda existe entre eles. Denise Fraga, esposa e parceira habitual de Villaça (como no quadro Retrato Falado), vive Ana, arquiteta que trabalha prospectando possíveis terrenos para futuros prédios, mas torce pela sobrevivência das casinhas velhas e suas histórias. Fábio (Domingos Montagner, de A Grande Vitória, 2014) é um jornalista que enfrenta a crise do mercado resistindo firme em seu emprego.
Devido à localização dos apartamentos, eles se veem o tempo todo, e isso faz com que a separação não seja plena. Vigiar o outro é uma tentação grande, e é necessário, ao mesmo tempo, parecer bem. Chegam a ser cômicos os esforços que eles fazem para manterem as aparências. No meio dessa situação, está a filha (Manoela Aliperti, da série 3 Teresas), em vias de estudar em outra cidade e agravar o drama dos pais, que já ficam carentes de antemão. O outro personagem importante do longa é a cidade de São Paulo, umas das paixões de Villaça, que tem uma presença forte na trama e é valorizada por uma bela fotografia urbana. O elenco de apoio conta com nomes como Marisa Orth, Marcello Airoldi, Laura Cardoso, Juca de Oliveira, Fúlvio Stefanini e Laila Zaid. A maioria dos envolvidos já trabalhou junto antes, fazendo do filme um grande encontro de amigos.
Entre momentos engraçados e mais sérios, conhecemos melhor os personagens e começamos a fazer nossas apostas nas causas do fracasso da união. Seria o culpado Fábio, com seu jeito largado e idealista? Ou Ana, com suas manias e superstições? Ou seriam mesmo o cotidiano e a mesmice os grandes vilões dessa história? Villaça vem desenvolvendo a ideia há anos, em meio a outros trabalhos na TV, Cinema e no teatro, fazendo com que o projeto atingisse uma maturidade interessante antes de chegar às filmagens. Mais do que o que teria acontecido a eles, começamos a pensar para onde eles vão, o que os aguarda. E nos vemos torcendo pela felicidade de cada um.
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