por Marcelo Seabra
Pouco tempo após a vitória do jornalístico Spotlight (2015) como Melhor Filme no Oscar 2016, chega aos cinemas do Brasil Conspiração e Poder (Truth, 2015). O longa é mais um a mostrar em detalhes uma boa parte do trabalho dos jornalistas, dessa vez da TV, e muita coisa interessante pode ser percebida. Ele funciona melhor, inclusive, como retrato da profissão que como um drama – e mereceu elogios do próprio Dan Rather, um dos jornalistas reais mostrados na tela.
Para sua estreia como diretor, o roteirista James Vanderbilt (dos novos Homem-Aranha) reuniu um elenco fantástico e contou uma história real, não muito antiga, que é mais uma clara referência à saga de Davi e Golias. Tendo escrito Zodíaco (Zodiac, 2007), Vanderbilt tinha experiência com fatos e com a adaptação de um livro, o que deve lhe ter permitido finalizar uma tarefa com mais facilidade para poder focar na outra, a nova. O livro adaptado é de ninguém menos que Mary Maples, a protagonista da história, produtora do 60 Minutes, programa tradicional da CBS que também aparece em O Informante (The Insider, 1999).
No papel principal, Cate Blanchett (de Cinderela, 2015) prova mais uma vez que é admirável até lendo a lista telefônica. Nada atrás está o veterano Robert Redford (de Capitão América 2, 2014), que traz o peso e o respeito necessários para Dan Rather, um dos maiores nomes do jornalismo norte-americano. A relação de confiança e cumplicidade entre Maples e Rather é um dos grandes trunfos do filme, que ainda destrincha a dinâmica da equipe por trás do programa. Com nomes como Dennis Quaid, Bruce Greenwood, Elizabeth Moss e Topher Grace, acompanhamos a adrenalina de falar com fontes, checar fatos, fazer pesquisas, gravar entrevistas, editar vídeos e selecionar conteúdo e até as partes cansativas, como aguardar retorno e decidir o que pedir para o almoço.
Através de uma ideia relativamente pequena, Maples começa a cavar atrás de uma matéria bem maior, que jogaria um pouco de lama no nome do então presidente americano George W. Bush, que estava em campanha pela reeleição. Um trabalho jornalístico bem feito pode influenciar o resultado de uma eleição, como vemos. Um pouco de pressa, já que o tempo urge, e logo Maples e Rather teriam problemas com a veracidade dos fatos narrados. E começamos a perceber, com mais clareza, a influência do poder econômico sobre o jornalismo, como o dinheiro pode guiar o trabalho e até corrompê-lo. A visão que Vanderbilt nos entrega pode ser ingênua, até um pouco tendenciosa, mas não deixa de trazer muita veracidade. Rather chega a se lembrar da época em que os noticiários não rendiam receita aos canais, eram tidos como uma obrigação entre os rentáveis programas de entretenimento.
Se não chega a ser um produto David Fincher ou a envolver como fez Spotlight, esse Truth – título muito mais condizente que essa alcunha nacional ordinária – cumpre vários papéis ao mesmo tempo, sendo o principal o de entreter. Redford, de Todos os Homens do Presidente (All the President’s Men, 1976), é sempre uma figura interessante e convence bem como o âncora de carreira invejável e reputação ilibada. Apesar do ótimo recebimento por Rather, a obra não agradou à CBS, canal que produzia o 60 Minutes e não é mostrado de forma muito lisonjeira. Andrew Heyward, presidente da CBS à época (aqui vivido por Greenwood), disse que se recusou a ver o filme e estava insultado pelo pouco que ouviu a respeito. Cabe ao público a conclusão do caso.
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