por Marcelo Seabra
A maioria dos filmes de Will Smith pode ser dividida entre aqueles que servem para mostrar o quão fantástico ele é e os de auto-ajuda, bonitinhos. Seu novo trabalho, Um Homem Entre Gigantes (a brilhante opção nacional para Concussion, de 2015), está com o segundo grupo, já que nos apresenta a um médico que teve um papel muito importante para a medicina esportiva norte-americana. A boa notícia é que o ator consegue deixar um pouco de lado seu narcisismo e vemos uma interpretação contida, resignada, como o papel pede. Mas discursos e momentos edificantes não faltam, o que torna o resultado bem mediano.
Com sotaque e trejeitos bem alterados, Smith vive um médico nigerino altamente titulado que vive nos Estados Unidos como legista, levando uma rotina bem básica e modesta, no esquema trabalho-igreja-casa. Quando recebe o corpo de um herói veterano do futebol americano, o Dr. Omalu decide descobrir o que teria matado um homem jovem e forte que já havia perdido tudo. Uma concussão na cabeça traria diversos problemas psicológicos e muitos atletas poderiam ir para o mesmo caminho. É claro que a Liga Nacional de Futebol não gostaria que ninguém soubesse que eles são responsáveis por um problema dessa magnitude e começa uma batalha entre David e Golias. É algo como visto em O Informante (The Insider, 1999), as produtoras de cigarro fizeram a mesma coisa alguns anos antes. O primeiro passo da NFL é ignorar a descoberta e fingir que não viu, o segundo é se colocar como simpática à causa e dizer que está fazendo esforços para promover estudos e soluções.
Os dois outros papéis de maior relevância em Concussion cabem a Albert Brooks (de O Ano Mais Violento, 2014) e Alec Baldwin (de Missão: Impossível – Nação Secreta, 2015), e ambos trazem peso a seus personagens, médicos respeitados que se unem a Omalu. A surpresa é o número de nomes facilmente reconhecíveis no elenco de apoio, como Stepehn Moyer (o vampiro Bill de True Blood), David Morse (de Amaldiçoado, 2013) e Eddie Marsan (de Ray Donovan). Paul Reiser (de Whiplash, 2014) aparece em um momento rápido e é até difícil reconhecê-lo, enquanto Luke Wilson (de Deixa Rolar, 2014) só dá as caras pela televisão, em uma ponta menor ainda. Gugu Mbatha-Raw (de O Destino de Júpiter, 2015) faz a esposa do protagonista, ficando apenas no desempenho padrão de esposa que o roteiro permite.
O pouco experiente Peter Landesman (de JFK, A História Não Contada, 2013) dirige, além de escrever, e não chega a imprimir nenhuma marca pessoal. Tudo é bem genérico e o longa chega a ficar arrastado, cansativo. Trata-se de um assunto importante, que merecia de fato chegar a um público amplo. Landesman, pintor, escritor e jornalista investigativo, viu o potencial do artigo de Jeanne Marie Laskas para a revista GQ e se lançou na missão de adaptá-lo. Só não soube ao certo o que fazer com ele.
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