Oscar 2016 – A Cobertura

por Marcelo Seabra

Após uma seleção de imagens de várias produções do ano, começa a apresentação de Chris Rock na 88ª entrega dos Academy Awards. E as primeiras piadas, claro, não poderiam ser sobre outro tema: a falta de indicados negros. E ele deixa claro: Hollywood é racista. De um jeito simpático e discreto, mas é. Mas nem tudo é sexismo ou racismo (lembrando da campanha “Ask her more”), e ele convida todos a aproveitarem a noite. Tentou atenuar o problema, como se não fosse grave.

As duas primeiras apresentadoras, as estonteantes Emily Blunt e Charlize Theron, anunciam a categoria Melhor Roteiro Original. Temos premiado o esperado Spotlight, com Josh Singer e Tom McCarthy no palco. Na sequência, Melhor Roteiro Adaptado, com uma encenaçãozinha cômica de Ryan Gosling e Russell Crowe. Charles Randolph e Adam McKay, de A Grande Aposta, sobem para levarem suas estatuetas. Propaganda, Sam Smith cantando a música chata de Spectre, clipe de Perdido em Marte e de A Grande Aposta e chegamos ao próximo prêmio: Melhor Atriz Coadjuvante. Alicia Vikander (abaixo), que teve pelo menos quatro filmes interessantes recentemente, levou por A Garota Dinamarquesa.

O Melhor Figurino é com Mad Max: Estrada da Fúria, primeiro prêmio para o longa. Melhor Design de Produção vem na sequência e é outro para Mad Max, assim como Melhor Maquiagem e Cabelo. Já são três estatuetas para o longa, e bem poderia levar a de Diretor. São exibidos os clipes de O Regresso e Mad Max e, após comercial, tem a categoria Melhor Fotografia, cuja aposta de todos parece ser Emmanuel Lubezki, de O Regresso. E não deu outra! O diretor de fotografia fica com seu terceiro prêmio consecutivo. Margaret Sixel leva Melhor Montagem, mais um para Mad Max.

Outra dupla multirracial entra para apresentar, isso parece que vai se repetir a noite toda. É o jeito da Academia se dizer não preconceituosa. E Mad Max leva mais dois prêmios: Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição de Som. Uma surpresa, mas muito merecida, fica com Ex-Machina: Melhores Efeitos Especiais. E os bolões ficaram bagunçados. Os Minions sobem no palco para algumas piadas sem graça, naquela língua deles, e anunciar Melhor Curta em Animação, que fica com A História de Um Urso, e segue Melhor Animação. A Pixar leva mais uma vez, para Divertida Mente. O irritante e puxa-saco Kevin Hart pede palmas para o apresentador Rock, para os atores negros não indicados e para o próximo número musical, com The Weeknd cantando o tema de 50 Tons de Cinza. Mesmo sem muita expressão, é melhor que a de Sam Smith.

Mais outros dois clipes dos melhores filmes, Ponte dos Espiões e Spotlight, e Rock preparou mais uma esquete focada na questão do racismo. Patrícia Arquette apresentou o Melhor Ator Coadjuvante, que parecia ter o nome de Sylvester Stallone. No entanto, Mark Rylance (abaixo), de Ponte dos Espiões, levou. Muito merecidamente, diga-se de passagem. Louis C.K. brinca que a categoria mais satisfatória é a de Melhor Documentário em Curta Metragem, já que os diretores são pessoas simples, que ganham pouco e terão o prêmio como a maior conquista da vida. Leva A Girl In The River: The Price Of Forgiveness,e Melhor Documentário chega a seguir. Amy, sobre a trágica Amy Winehouse, ganha.

Numa festa paralela, a Governor’s Awards, foram homenageados as atrizes Gena Rowlands e Debbie Reynolds e o diretor Spike Lee, e vimos um clipe com parte da celebração. A presidente da Academia fez um pequeno discurso ressaltando que é papel de todos lutar pelos direitos, meio que isentando a instituição na questão do racismo. Dave Grohl faz uma bonita versão de Blackbird, dos Beatles, para as homenagens aos falecidos do último ano. Entre profissionais mais e menos famosos, temos representantes de várias profissões, de críticos de cinema a atores, passando por diretores de fotografia, agentes e, claro, o polivalente David Bowie.

A orquestra está sempre afiada, com temas clássicos do Cinema, e os jovens Jacob Tremblay (de O Quarto de Jack) e Abraham Attah (de Beasts of No Nation) apresentam o Melhor Curta em Live Action, Stutterer. E o Melhor Longa em Língua Estrangeira vem da Hungria e responde por O Filho de Saul, o segundo Oscar do país. O vice-presidente americano Joe Biden é recebido com muita animação e palmas e pede o apoio de todos em casos de abusos, seja de homens ou de mulheres. Qualquer cidadão deve intervir. E chama “a amiga” Lady Gaga para interpretar o tema indicado de The Hunting Ground, um documentário exatamente sobre estupros e o acobertamento deles.

Já vencedor de um Oscar pelo fabuloso conjunto da obra, o maestro Ennio Morricone agora consegue emplacar um por um filme específico, Os 8 Odiados. O agradecimento vem em italiano com direito a tradutor. Sam Smith inacreditavelmente leva o prêmio de Melhor Canção Original por Writing’s on the Wall, de 007 Contra Spectre. Outro estrangeiro leva um Oscar: Alejandro González Iñárritu é Melhor Diretor por O Regresso, seu segundo, igualando-o aos recordistas John Ford e Joseph L. Mankiewicz.

A Melhor Atriz da noite finalmente é revelada, mas já sabíamos quem seria: Brie Larson, por O Quarto de Jack. E o prêmio mais previsível da noite foi o que se seguiu, o de Melhor Ator. Quase como recompensa por uma comoção mundial, Leonardo DiCaprio finalmente leva o Oscar, acabando com inúmeros memes. E ele faz o que deve ser o mais longo discurso da noite, sem música interrompendo, agradecendo a várias pessoas, de O Regresso ao início de sua carreira, passando por seus pais e pelo mentor Martin Scorsese, além de fazer uma bela menção ao futuro do planeta e do cuidado que devemos ter com ele. Morgan Freeman entra para apresentar o Melhor Filme e nos entrega a maior de todas as surpresas: desbancando O Regresso, A Grande Aposta e Mad Max, quem leva é Spotlight! Às duas da manhã, depois dessa grande revelação, Rock volta ao palco apenas para encerrar.

Balanço final em número de Oscars:

Mad Max – 6

O Regresso – 3

Spotlight – 2

O Quarto de Jack, Ex-Machina, Divertida Mente, Os 8 Odiados, A Garota Dinamarquesa, A Grande Aposta, 007 Contra Spectre – 1

Iñárritu é novamente o melhor diretor

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Muito bom !! Assisti cada segundo... Não concordei com algumas premiações, mas acontece..rs

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