por Marcelo Seabra
Como já vem demonstrando há bastante tempo, Jake Gyllenhaal (de O Homem Duplicado, 2013) se tornou um ator para se acompanhar. Cada projeto é mais interessante que o outro e, se o texto não ajudar, ao menos temos a certeza de uma interpretação apaixonada, de muita entrega ao personagem. Dessa vez, ele vive um boxeador em Nocaute (Southpaw, 2015), novo trabalho do diretor Antoine Fuqua (de O Protetor, 2014). Se reforça alguns estereótipos do mundo do boxe, por outro lado o filme mostra os ringues com bastante veracidade.
Uma opção para filmes sobre esportistas é mostrá-los começando de baixo e tentando alcançar o sucesso, como o já clássico Rocky: Um Lutador (1976). Outra é encontrá-los num ponto alto de suas carreiras apenas para vê-los cair, interessando então acompanhar a redenção. Essa segunda possibilidade é o caso aqui: Billy Hope (Gyllenhaal) está no auge, detentor do título mundial da categoria, até que uma fatalidade acontece. Sem rumo, ele logo perde o cinturão e vê sua vida desmoronar, perdendo tudo o que construiu.
Alguns retratos pintados pelo roteiro de Kurt Sutter (de Filhos da Anarquia) são exagerados e apelam a lugares comuns que frequentam a cabeça de quem não é familiarizado com o mundo do boxe. Como o próprio campeão Oscar De La Hoya escreve ao Hollywood Reporter, produtores que compram resultados e atletas que agem de forma violenta em casa podem até existir, mas hoje são casos muito raros para serem mostrados como corriqueiros. Lutadores não necessariamente são pessoas de estopim curto que reagem a qualquer provocação, como mostrou o pacato professor de Guerreiro (Warrior, 2011). Muito menos saem enchendo todos à sua volta de presentes caros.
Além dessa visão rasteira dos atletas e o que os rodeia, o outro problema do texto de Sutter é a total previsibilidade. A todo momento, é fácil saber o que acontecerá adiante. A fórmula segue certinha, totalmente linear, até o final que adivinhamos aos vinte minutos de projeção. Não que não seja empolgante, só não há tensão ou suspense. Se o resultado não desanima, dois são os fatores principais. A já citada interpretação de Gyllenhaal é forte, dedicada, calculada, começando pelo físico que apresenta, que convence como o de um lutador peso leve. A outra grande qualidade é a fotografia de Mauro Fiore (de Gigantes de Aço, 2011), que capta cenas fantásticas nas lutas, nos ginásios e até nas ruas. De uma casa enorme a um quarto apertado, ele faz muito bom uso do espaço interno.
A explicação do título original, Southpaw, vem do personagem de Forest Whitaker (de Busca Implacável 3, 2014), que vive um treinador experiente procurado por Billy. Trata-se de um golpe no qual o lutador deixa o pé e a mão direita à frente, reservando a potência do soco de esquerda para um possível nocaute. Whitaker está um pouco menos caricato do que o usual e não chega a comprometer. Rachel McAdams (de Sob o Mesmo Céu, 2015) não tem muito espaço e deixa as atenções para a jovem Oona Laurence, que convence como a filha do casal. Além de alguns outros nomes famosos, como Naomie Harris e os cantores 50 Cent e Rita Ora, o elenco conta com gente do universo do esporte, como os lutadores Victor Ortiz, Aaron Quattrocchi e Rayco Saunders, o árbitro Tony Weeks e os narradores Jim Lampley e Roy Jones Jr., o que traz mais veracidade às cenas de lutas.
Com alguns filmes ruins no currículo e outros apenas fracos, Antoine Fuqua continua dependendo de Dia de Treinamento (Training Day, 2001) para ter uma boa apresentação – e mais pelo roteiro de David Ayer que por seu talento. Nocaute fica no meio do caminho, subaproveitando o esforço dos envolvidos e uma das últimas trilhas compostas por James Horner, morto em junho num acidente de avião. Tratando-se de boxe, mais aguardado é o novo episódio da franquia Rocky, agora protagonizado pelo filho de Apollo Creed.
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