por Marcelo Seabra
Gostando-se ou não da trilogia Sobrenatural (Insidious), não se pode dizer que ela não seja coerente. Além das histórias criativas e dos sustos garantidos, é muito interessante perceber as engrenagens que o roteirista Leigh Whannell criou e a forma como elas se conectam. Pode-se ir e voltar no tempo, mas a cronologia é sempre observada e as referências abundam. Chega agora aos cinemas Sobrenatural: A Origem (Insidious: Chapter 3, 2015), que na verdade não conta origem alguma, mas volta no tempo um bocado.
Nossa velha conhecida, Elise Rainier (Lin Shaye), volta a lidar com o outro lado depois de um longo tempo afastada. Uma experiência a traumatizou e foi necessário uma garota em apuros para sensibilizá-la. A adolescente Quinn Brenner (Stefanie Scott, de Detona Ralph, 2012) queria fazer contato com a mãe, recém-falecida, mas já aprendemos que nem sempre o espírito que responde ao chamado é o certo, e muito menos ele é bem intencionado. A garota começa a ter problemas com uma suposta entidade maligna e resta ao pai Brenner (Dermot Mulroney, de Álbum de Família, 2013) procurar por Elise.
A trama da família Lambert, dos dois primeiros filmes, parecia bem fechada, e Patrick Wilson chegou a afirmar isso, apontando a falta de sentido em se voltar àquele universo. Mas Whannell foi esperto o bastante para não se repetir, desenvolvendo melhor os outros personagens da franquia, principalmente Elise e os caçadores de fantasmas Tucker (Angus Sampson) e Specs (o próprio Whannell). Além de atuar e escrever, Whannell ainda assumiu a direção no lugar do amigo e colaborador constante James Wan, fazendo sua estreia na função. Wan foi cuidar de Velozes e Furiosos 7 (Furious Seven, 2015) enquanto isso, sendo creditado aqui apenas como produtor.
Depois de Ty Simpkins, coube a Scott o papel de jovem possuída, e a garota leva bem a responsabilidade, como fez o colega. A história desse terceiro capítulo é a mais simples das três, e os personagens são todos razoáveis em suas ações e decisões, o que já é um alívio para filmes do gênero. Ao mesmo tempo, não deixa de ser um problema, já que muitas coisas se tornam previsíveis e levam embora a tensão. A compensação vem na forma de tratar o pai, que foge do clichê do incrédulo burro, e nas novidades sobre quem já conhecíamos. Aparentemente, todas as cartas estavam na mesa, mas Whannell cria formas de fazer revelações.
Apesar de Wan se mostrar mais inventivo quanto a planos e enquadramentos, seu substituto não deixa a desejar, e prova estar bem inteirado quanto a esta série. Quando perguntado sobre o futuro de Sobrenatural, Whannell foi evasivo, mas deu indicações de que pode dar continuidade a este filme, seguindo na jornada de Elise. A fala, nessas horas, é sempre a mesma: “não faremos por dinheiro apenas, será só se tivermos um bom roteiro”. Como ele próprio é o responsável, podemos esperar por novidades.
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