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Bairro londrino é destaque em Ripper Street

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

O bairro de Whitechapel, localizado no leste de Londres, passou à história pelo fato de, entre 31 de agosto e 9 de novembro de 1888, ter sido o cenário escolhido pelo assassino conhecido posteriormente como Jack, o Estripador atuar (e, de acordo com algumas teorias, morar). A identidade de Jack nunca foi revelada e isso, associado aos detalhes sórdidos de seus crimes e à infinidade de teorias a respeito de suas motivações e identidade, o tornou uma figura icônica.

Se os atos de Jack são bastante conhecidos, pouco se sabe sobre os homens do Distrito H, subseção da Polícia Metropolitana que esteve envolvida na caçada pelo assassino. Ripper Street, série da BBC cujas três primeiras temporadas foram recentemente disponibilzadas no Netflix e é transmitida pelo canal a cabo BBC HD no Brasil, foca justamente nesses personagens, misturando figuras reais com outras completamente ficcionais que tentam continuar com suas vidas após o maior fracasso de suas carreiras.

A série se inicia em abril de 1889, seis meses após Jack ter desaparecido misteriosamente. Apesar dos assassinatos terem cessado, seu espectro ainda assombra a divisão H, especialmente o Detetive Inspetor Edmund Reid (Mathew Macfadyen, de Os Pilares da Terra), chefe do distrito na época dos assassinatos, e do Inspetor Chefe Frederick Abberline (Clive Russel, de Thor: O Mundo Sombrio, 2013). Ambos tratam do assunto de maneira diferente: enquanto Reid tenta evitar que a busca por Jack afete seu trabalho, Abberline prefere ver o estripador em qualquer crime brutal acontecido na época. O pontapé inicial para a série é, justamente, um assassinato brutal que Abberline quer atribuir ao estripador, enquanto Reid, um daqueles detetives clássicos da televisão inglesa, procura por respostas mais palpáveis e próximas da realidade.

Para conseguir seus resultados, ele conta com a ajuda do sargento Bennet Drake (Jerome Flynn, de Game of Thrones) e do capitão Homer Jackson (Adam Rothenberg, de séries como Elementary e House), um médico americano com um passado obscuro que vem à tona ao longo da primeira temporada da série. Homer tem um relacionamento muito próximo com Long Susan (MyAnna Buring, de Downton Abbey), dona de um bordel local que divide esse passado com ele e tem uma importância significativa na série. Completam o quadro principal Rose Erskine (Charlene McKenna, de séries como Lei & Ordem: Reino Unido e Misfits), uma das garotas do bordel de Susan pela qual o sargento Drake sente uma forte atração, e Fred Best (David Dawson, de Luther), editor de um tablóide local no estilo dos jornais populares que temos por aqui, ou seja, quanto mais sangue, melhor.

Apesar da sombra do estripador estar presente em diversas ocasiões, Ripper Street se foca muito mais na rotina do Departamento de Polícia da rua Lemhan do que em Jack. A série procura mostrar o período turbulento pelo qual Londres, especialmente Whitechapel, um bairro industrial pobre, passava naquela época, tendo uma reconstituição histórica bastante interessante e tramas bem amarradas. Assaltos, sequestros, epidemias e, claro, assassinatos são crimes aqui explorados, assim como as vidas pessoais do trio de protagonistas.

Uma outra característica interessante sobre Ripper Street é que ela é uma das primeiras séries a se aproveitar das novas formas de produção e trasmissão televisiva. Após duas temporadas, de oito episódios cada, recebendo boas críticas, mas com uma audiência considerada insuficiente para que continuasse sendo produzida, ela foi cancelada. Seus produtores procuraram outras formas de manterem a série e acabaram fechando contrato com o serviço de streaming da Amazon, que, através de seu Amazon Prime Instant Video, garantiu a produção de uma terceira temporada, cuja veiculação começou em janeiro de 2015. Assim que o acordo com a Amazon foi fechado, a BBC mostrou-se disponível a transmitir novamente a série, sendo logo seguida pela Netflix. Aqui há uma pegadinha, no entanto: enquanto os episódios das duas primeiras temporadas têm o formato padrão da TV inglesa de 55 minutos, a terceira temporada não tem essas restrições, tendo episódios com média de 65 minutos de duração. Devido a isso, aqueles que assistirem pelo Netflix ou pela BBC verão uma versão editada para caber dentro do padrão.

Independente de todos os seus percalços, Ripper Street é uma série bem interessante para aqueles que se interessam por esse tipo de dramaturgia, com histórias bem escritas e um elenco bastante afiado. Com temporadas de 8 episódios apenas, é a série ideal para se aproveitar na época do mid-season, quando suas séries preferidas (aquelas com 13 a 22 episódios por temporada) estão em hiato. E uma notícia mais legal ainda é que a Amazon anunciou recentemente que renovou o contrato com a Tiger Aspect, produtora da série, para mais duas temporadas.

Um dos fortes da série é a reconstituição de época

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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