por Marcelo Seabra
Certos filmes, quando muito elogiados lá fora, já chegam por aqui com boa fama e atraem um público maior, na expectativa criada por críticos e bilheterias estrangeiros. O que nem sempre funciona – vide o incensado Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011). E o contrário vez ou outra acontece também: malham tanto a produção que ela chega sob uma grande suspeita de ruindade, o que acaba afastando uma parte das pessoas. Temos dois longas que estrearam nessa segunda situação: sob uma nuvem de críticas negativas. Tanto que nem esquentaram lugar nas salas. Mas apenas um deles de fato merece essa desonra.
Depois de estrear com atores de carne e osso em Missão: Impossível – Protocolo Fantasma (2011), Brad Bird partiu para uma fantasia que nos apresenta a um novo universo. Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível (2015) leva seu público a um lugar que não é bem definido, algo como um planeta paralelo fora da Terra. Tudo lá é inventivo, funciona bem e parece ter chegado a um ponto interessante de auto-sustentação. Mas algo errado aconteceu e nosso amigo Frank Walker (George Clooney, de Caçadores de Obras-Primas, 2014) foi expulso de lá. A ação começa quando ele conhece a jovem Casey Newton (Britt Robertson, de Cake, 2014), uma geniazinha como ele que recebe um estranho souvenir de Tomorrowland.
Como nada para Bird é simples como parece, há temas misturados nessa aparentemente bobinha ficção que podem levar a uma discussão mais profunda. Para começar, há a questão da escolha de quem pode viver nesse lugar tão evoluído, tão selecionado. E Hugh Laurie, mais lembrado como Dr. House, é o mandatário da cidade, a quem cabe decidir o andamento das coisas. Como o outro roteirista é o famigerado Damon Lindelof (de Lost e Prometheus, 2012), é natural que alguns detalhes ficassem no ar e certas explicações se fizessem necessárias. Mas, independente dessas pontas soltas, trata-se de uma aventura leve, criativa, com todo o jeito daquelas matinês oitentistas, prato cheio para saudosistas.
O caso é bem diferente com Cameron Crowe e seu Sob o Mesmo Céu (Aloha, 2015). Depois de besteiras como Elizabethtown (2005) e Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo, 2011), o diretor e roteirista que nos presenteou com o clássico instantâneo Quase Famosos (Almost Famous, 2000) bem que podia ter acertado a mão. Mas não é o que observamos com essa historinha fraca de um sujeito fracassado (Bradley Cooper, de Sniper Americano, 2014) que tem possivelmente sua última chance com um trabalho de volta ao Havaí, onde viveu muita coisa e deixou um amor para trás (Rachel McAdams, atualmente em True Detective). Uma militar acidentalmente linda (Emma Stone, de Magia ao Luar, 2014) é colocada para pajear o cara, que tem um histórico de problemas com mulheres, e completa o núcleo principal o milionário (Bill Murray, de O Grande Hotel Budapeste, 2014) que emprega o protagonista.
O elenco de Sob o Mesmo Céu, que não traz ninguém que lembre minimamente o tipo havaiano, é muito bom, e muito desperdiçado também. O único que consegue um momento interessante é John Krasinski (de Terra Prometida, 2012), com roteiro bem inspirado em Woody Allen, e outros atores entram e saem sem propósito. E assim pode ser descrita a trama, cheia de buracos e situações duras de engolir, que servem apenas à conveniência do texto. A impressão que fica é que existia uma ideia básica, mas não havia liga alguma, com várias partes espalhadas que Crowe não teve muito jeito para reunir. Ao contrário de Tomorrowland, ele merece as vaias, e seguimos na torcida pela recuperação rápida e definitiva do diretor.
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