Dinossauros voltam à vida para um quarto Jurassic Park

por Marcelo Seabra

O primeiro filme veio em 1993 e revolucionou os efeitos especiais no Cinema. Jurassic Park mostrava dinossauros andando, correndo e matando pelos campos de um parque de diversões, interagindo uns com os outros, na chuva, em diversas situações. Foi possível acreditar que Steven Spielberg tinha trazido as criaturas de volta, e a aventura era bem satisfatória, com humor, suspense e ação em doses bem equilibradas. Em 1997, chegou a inevitável sequência, cansativa e com cara de caça-níqueis. Em 2001, Joe Johnston deu um novo ar à franquia e o universo dos dinossauros de Michael Crichton ganhou vida novamente.

Mais de uma década depois, o ocupado Spielberg consegue reunir o necessário para levar outra história do parque para as telas. Como estava atolado de projetos, entregou Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015) para o novato Colin Trevorrow, que chamou a atenção do veterano com sua estreia na direção de um longa, Sem Segurança Nenhuma (Safety Not Guaranteed, 2012). Com uma nova história escrita a várias mãos, era hora de enfrentar dinossauros novamente. Utilizando a moda do momento, o 3D, com o mesmo resultado insosso que tem-se conseguido, o filme chega essa semana aos cinemas brasileiros – e em mais um punhado de lugares, e um dia antes dos Estados Unidos!

Com o sucesso de Guardiões da Galáxia (2014) no currículo, Chris Pratt se mostrou uma escolha acertada para o principal papel masculino, um militar experiente que trabalha com comportamento de animais no parque. Quase como um Indiana Jones moderno e aperfeiçoado, Owen Grady é durão, pilota uma moto como ninguém e tem uma relação próxima com os dinossauros, principalmente um grupo de velociraptores criados por ele desde o nascimento. A mulher importante da trama, balanceando a batalha dos sexos, é Claire, a poderosa executiva que gere o parque para o bilionário que decidiu comprar a ideia de John Hammond (Richard Attenborough, falecido no ano passado). Como Claire, Bryce Dallas Howard (de 50%, 2011) é doce e forte, tentando ao máximo evitar a incômoda posição de mocinha em perigo. E o indiano Irrfan Khan (de As Aventuras de Pi, 2012) vive o chefe dela, alguém que quis trazer diversão para famílias mesmo a um custo astronômico.

De uma forma geral, o elenco é muito bom e começa a funcionar melhor a partir da metade do filme. No início, a impressão que dá é que todos estão se acostumando, ou que o diretor não sabe bem como orientá-los. Muito artificialismo, falas ensaiadas para se alternarem no tempo certo – com esperas entre elas – e dois jovens aborrecidos vivendo clichês ambulantes. Com o tempo, Ty Simpkins (dos dois Sobrenatural) e Nick Robinson (de Os Reis do Verão, 2013) deixam de ser tão chatos, mesmo que a relação entre eles tome caminhos previsíveis e forçados. Aliás, previsibilidade é a palavra de ordem. Sabemos de antemão até quem vai morrer.

O grande problema que a trama traz, aquele que coloca a roda pra rodar, é a existência de um novo dinossauro, totalmente manipulado em laboratório, denominado Indominus rex. Afinal, depois de alguns anos, o parque cai na mesmice e precisa de uma novidade, ou assim os gestores pensam. E o mesmo Dr. Henry Wu do primeiro filme (B.D. Wong) é capaz de uma estupidez enorme: buscar uma mistura genética olhando apenas as vantagens, sem considerar as demais consequências. Uma equipe da InGen (empresa paramilitar de Hammond), liderada por um intragável Vincent D’Onofrio (da série do Demolidor), tem um propósito escuso.

Essa fórmula tem como objetivo divertir o público sem que se tenha que pensar muito, como um típico blockbuster. Um furo de roteiro logo é encoberto por um dinossauro bacana, uma cena criativa, efeitos mais avançados, uma bela tomada, e tudo com a trilha majestosa de Michael Giacchino (Oscar por Up, 2009), que segue os passos do premiado John Williams. Todos esses elementos juntos não fariam nunca um filme ruim. Jurassic World tem seus bons momentos e cumpre sua função como entretenimento. Como o próprio parque, o filme não tem o frescor do original e faz malabarismos para tentar manter o interesse do público.

A clássica cena do carro ganha uma homenagem

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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